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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Nova esquerda

E são estas bestas-quadradas que vêm agora clamar, passados quase 39 anos sobre aquele nefasto dia de Abril, que “Portugal precisa de um homem com inteligência e a honestidade do ponto de vista do Salazar para resolver a crise” e que “uma guerra na Europa é inevitável, devendo Portugal sair do euro e da União Europeia”, isto porque os europeus estariam a destruir o estado social.

Hoje decidi-me a falar da esquerda portuguesa. Não daquela boa e velha esquerda romântica, idealista, libertária, inteligente, que se desvanecia com as artes e com quase tudo quanto tinha a ver com o intelecto, e que se encontra em vias de extinção, mas da nova esquerda, personificada em dois gerontes que recentemente e só agora se pronunciaram sobre a crise em que ajudaram a colocar o nosso país. Refiro-me aos preclaros Otelo e Lourenço que em entrevistas disseram, o primeiro, que faz falta um Salazar para recuperar o país, o segundo, que devíamos sair do euro e da União Europeia.

O pensamento, passe a expressão, destas duas alimárias espelha na perfeição aquilo em que se tornou a esquerda portuguesa: uma massa amorfa, retrógrada, monolítica e burra como não há outra igual no tecido social português. Estas cabeças tontas, concretamente representadas por este par de sevandijas, falam de uma data como se de uma religião se tratasse, transformaram essa mancha da História de Portugal numa catilinária contra o Estado Novo em geral e mais directamente contra o Dr. Salazar, foram fazendo promessas a granel, incluindo uma, anunciada como prioritária, sobre a obrigação de nos “reintegrarmos” na Europa, mostrando logo aí a sua profunda ignorância do historial da nação onde foram, desgraçadamente, dados à luz, quando o destino nos poderia ter poupado a tanto, bastando o recurso a um estratagema por cuja legalização tanto se bateram. E são estas bestas-quadradas que vêm agora clamar, passados quase 39 anos sobre aquele nefasto dia de Abril, que “Portugal precisa de um homem com inteligência e a honestidade do ponto de vista do Salazar para resolver a crise” e que “uma guerra na Europa é inevitável, devendo Portugal sair do euro e da União Europeia”, isto porque os europeus estariam a destruir o estado social.

E que sacrossanta coisa será essa do “estado social”? É aquilo que estas luminárias, apoiadas então por alguns espertalhões da política, como um cujas bochechas deram brado e que deixou escola, tendo como melhor aluno um outro que também virou “parisiense”: viver à grande e à francesa sem trabalhar — estilo de vida suportado pelos contribuintes que de facto trabalham. E esta onerosa e insustentável infâmia inculcou-se de tal forma nos hábitos de alguns portugueses que agora vai ser mais difícil livrá-los dessa dependência do que desintoxicar um heroinómano. Enriquecer só é saudável se isso resultar de muito trabalho, de muito sacrifício, determinação e espírito empreendedor. Quando esta cambada recria em coro o “Grândola, Vila Morena” ou berra erraticamente que “o povo unido jamais será vencido”, ululando slogans cediços contra os ricos, não se dá conta de que “os ricos” que deveriam pagar a crise são eles próprios, porque enriqueceram de forma ilícita, a mesma com que muitos deles se licenciaram ou ascenderam a cargos públicos.

Desculpem lá o longo desabafo, mas é só porque andam por aí alguns especímenes desta casta desprezível, que se dão ao luxo de vomitar insultos nas páginas de quem tem princípios e preza defendê-los.

Nota final: esta “nova esquerda” é mais velha que o defecar.
 
João Braga

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