Enquanto a sociedade não souber
resolver o problema das crianças e dos idosos, recuso-me a alinhar nesta
esquizofrenia colectiva que é a defesa dos animais. Até porque acredito que há
espaço e tempo e é possível a convivência de todos.
Dizer-se que esta sociedade de hoje está despida de valores é verdadeiramente inacreditável. O que é aceitável dizer-se desta sociedade é que tem a sua hierarquia de valores algo distorcida. Se não vejamos:
Há uns dias atrás recebi mais uma daquelas mensagens com um apelo para que se ajudasse um animal, um cão, que ficou despojado do seu lar. O que esta história tem de diferente de tantas outras, é que ninguém abandonou o animal. A família composta pelo pai, pela mãe e pelos dois filhos foi desalojada porque o seu banco accionou a hipoteca de que era titular, deixando na rua os quatro elementos do agregado e o seu cão.
A mensagem tinha como título: ajudem o cão! Que me perdoe o animal porque não me recordo o seu nome, mas o que verdadeiramente me impressionou foi a indiferença a que, nesse apelo, as pessoas que viviam uma situação absolutamente dramática foram votadas.
Alguém disse em tempos que o nível de evolução de um povo pode ver-se na forma como trata os seus animais. Eu acredito nesse princípio e valorizo-o fortemente. Atribuo um valor incomensurável a todos aqueles que cumprindo um papel que não é o seu, se dedica ao voluntariado, a ajudar os animais, a procurar-lhes donos, a dar-lhes acolhimento e comida, a providenciar-lhes uma família, mas… esquecer ou desvalorizar as pessoas é uma completa aberração.
Na sociedade portuguesa existem dois problemas sociais graves e sistémicos: por um lado a cada vez mais baixa taxa de natalidade e por outro a falta de cuidado e de interesse nos idosos.
A redução do número de nascimentos a níveis históricos explica-se de muitas formas: as condições económicas em que vivem as famílias, o novo papel da mulher na sociedade e no emprego e a falta de políticas que incentivem a maternidade. Além disso, as alterações registadas no perfil e padrão das famílias e a ausência de laços que solidifiquem o conceito de unidade familiar têm também contribuído para este flagelo;
No lado oposto da vida, a velhice, chocam-nos os casos cada vez mais frequentes de idosos condenados ao abandono pelas famílias que criaram e ajudaram a erigir. Os que são financeiramente independentes ou que têm filhos que pagam para os depositar em lares de qualidade duvidosa são até aqueles que menos se podem queixar atendendo aos casos absurdos que as televisões nos mostram de idosos que morrem sozinhos em suas casas passando-se anos até que alguém dê pela sua falta.
Não se trata de não suportar mais o ruído das mensagens nas redes sociais com cães e gatos, uns normais e bonitos, outros feridos, doentes e mal tratados. Já todos conhecemos por certo as suas reconhecidas fidelidades e actos heroicos. Mas porque não se enaltecem e enobrecem as pessoas e os seus actos dignos, as suas facetas e as suas experiências? Porque não se dedicam o mesmo tempo e energia às pessoas, especialmente aquelas que mais necessitam da nossa atenção, carinho e humanismo.
Porque é que jovens casais preferem ter um cão ou um gato ao invés de ter um filho, de o criar e proteger e de o educar de modo a poder contribuir para um futuro colectivo de que todas as gerações futuras tirarão proveito e que porventura os realizará muito mais como seres humanos?
Por falta de tempo? Por falta de recursos? Por falta de meios? Obviamente que não! Ter um animal em casa exige tudo isso: Exige tempo e dedicação e custa dinheiro. A este propósito refiro que conheço famílias que levam os filhos, quando doentes, a esperar oito horas num hospital público mas correm para um veterinário (e pagam) sempre que o seu cão está prostrado e doente.
Os animais não nos exigem custos com amas ou infantários mas não podem, ao contrário das crianças, ser deixados com os avós. Por outro lado, ao deixarmos as nossas crianças com os avós estamos a veicular ensinamentos e experiência de vida aos mais novos e a dar utilidade e por via disso, longevidade e vitalidade aos mais velhos.
Não ouso questionar os serviços que a sociedade civil e anónima presta a tantos animais abandonados e carenciados. O que questiono é tão simplesmente a escala de valores que hoje estabelecemos sem nos dar conta.
Comovem-me obviamente os animais abandonados e mal tratados; comovem-me os gansos alimentados de forma abominável para produzir o melhor foie gras. Comovem-me as focas bebé mortas à paulada no Canadá ou as baleias mortas no japão, mas não partilho da máxima de que quanto mais conhecemos as pessoas mais devemos gostar dos animais.
Enquanto a sociedade não souber resolver o problema das crianças e dos idosos, recuso-me a alinhar nesta esquizofrenia colectiva da defesa dos animais. Até porque acredito que há espaço e tempo e é possível a convivência de todos.
Dizer-se que esta sociedade de hoje está despida de valores é verdadeiramente inacreditável. O que é aceitável dizer-se desta sociedade é que tem a sua hierarquia de valores algo distorcida. Se não vejamos:
Há uns dias atrás recebi mais uma daquelas mensagens com um apelo para que se ajudasse um animal, um cão, que ficou despojado do seu lar. O que esta história tem de diferente de tantas outras, é que ninguém abandonou o animal. A família composta pelo pai, pela mãe e pelos dois filhos foi desalojada porque o seu banco accionou a hipoteca de que era titular, deixando na rua os quatro elementos do agregado e o seu cão.
A mensagem tinha como título: ajudem o cão! Que me perdoe o animal porque não me recordo o seu nome, mas o que verdadeiramente me impressionou foi a indiferença a que, nesse apelo, as pessoas que viviam uma situação absolutamente dramática foram votadas.
Alguém disse em tempos que o nível de evolução de um povo pode ver-se na forma como trata os seus animais. Eu acredito nesse princípio e valorizo-o fortemente. Atribuo um valor incomensurável a todos aqueles que cumprindo um papel que não é o seu, se dedica ao voluntariado, a ajudar os animais, a procurar-lhes donos, a dar-lhes acolhimento e comida, a providenciar-lhes uma família, mas… esquecer ou desvalorizar as pessoas é uma completa aberração.
Na sociedade portuguesa existem dois problemas sociais graves e sistémicos: por um lado a cada vez mais baixa taxa de natalidade e por outro a falta de cuidado e de interesse nos idosos.
A redução do número de nascimentos a níveis históricos explica-se de muitas formas: as condições económicas em que vivem as famílias, o novo papel da mulher na sociedade e no emprego e a falta de políticas que incentivem a maternidade. Além disso, as alterações registadas no perfil e padrão das famílias e a ausência de laços que solidifiquem o conceito de unidade familiar têm também contribuído para este flagelo;
No lado oposto da vida, a velhice, chocam-nos os casos cada vez mais frequentes de idosos condenados ao abandono pelas famílias que criaram e ajudaram a erigir. Os que são financeiramente independentes ou que têm filhos que pagam para os depositar em lares de qualidade duvidosa são até aqueles que menos se podem queixar atendendo aos casos absurdos que as televisões nos mostram de idosos que morrem sozinhos em suas casas passando-se anos até que alguém dê pela sua falta.
Não se trata de não suportar mais o ruído das mensagens nas redes sociais com cães e gatos, uns normais e bonitos, outros feridos, doentes e mal tratados. Já todos conhecemos por certo as suas reconhecidas fidelidades e actos heroicos. Mas porque não se enaltecem e enobrecem as pessoas e os seus actos dignos, as suas facetas e as suas experiências? Porque não se dedicam o mesmo tempo e energia às pessoas, especialmente aquelas que mais necessitam da nossa atenção, carinho e humanismo.
Porque é que jovens casais preferem ter um cão ou um gato ao invés de ter um filho, de o criar e proteger e de o educar de modo a poder contribuir para um futuro colectivo de que todas as gerações futuras tirarão proveito e que porventura os realizará muito mais como seres humanos?
Por falta de tempo? Por falta de recursos? Por falta de meios? Obviamente que não! Ter um animal em casa exige tudo isso: Exige tempo e dedicação e custa dinheiro. A este propósito refiro que conheço famílias que levam os filhos, quando doentes, a esperar oito horas num hospital público mas correm para um veterinário (e pagam) sempre que o seu cão está prostrado e doente.
Os animais não nos exigem custos com amas ou infantários mas não podem, ao contrário das crianças, ser deixados com os avós. Por outro lado, ao deixarmos as nossas crianças com os avós estamos a veicular ensinamentos e experiência de vida aos mais novos e a dar utilidade e por via disso, longevidade e vitalidade aos mais velhos.
Não ouso questionar os serviços que a sociedade civil e anónima presta a tantos animais abandonados e carenciados. O que questiono é tão simplesmente a escala de valores que hoje estabelecemos sem nos dar conta.
Comovem-me obviamente os animais abandonados e mal tratados; comovem-me os gansos alimentados de forma abominável para produzir o melhor foie gras. Comovem-me as focas bebé mortas à paulada no Canadá ou as baleias mortas no japão, mas não partilho da máxima de que quanto mais conhecemos as pessoas mais devemos gostar dos animais.
Enquanto a sociedade não souber resolver o problema das crianças e dos idosos, recuso-me a alinhar nesta esquizofrenia colectiva da defesa dos animais. Até porque acredito que há espaço e tempo e é possível a convivência de todos.
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