José de Pina, com a sua habitual sagacidade e oportuno sentido de humor, escreveu na sua página do facebook “O drama do António Costa é o seguinte: um autarca, para ser autarca, tem de fazer rotundas. Mas em Lisboa já estão todas feitas. Resolveu fazer duplas rotundas. É de génio!“.
Tinha ficado a promessa de que voltaria aqui ao tema das alterações rodoviárias no Marquês de Pombal e na Avenida da Liberdade. Decidi, no entanto, fazer uma espécie de período de nojo, não deixando que as horas perdidas a chegar à placa central de Lisboa me tolhessem a clarividência do pensamento e influenciassem negativamente a opinião sobre a obra e sobre as motivações que a levaram a ser efectuada.
Tinha ficado a promessa de que voltaria aqui ao tema das alterações rodoviárias no Marquês de Pombal e na Avenida da Liberdade. Decidi, no entanto, fazer uma espécie de período de nojo, não deixando que as horas perdidas a chegar à placa central de Lisboa me tolhessem a clarividência do pensamento e influenciassem negativamente a opinião sobre a obra e sobre as motivações que a levaram a ser efectuada.
No passado dia 15, sábado,
entraram em funcionamento as alterações propostas para a circulação automóvel.
Durante o fim-de-semana, nada se passou ou relatou relativamente a estas
alterações. Os media e, por consequência, o povo, esteve sobretudo preocupado
com a manifestação, com o que se lá passou, com os gritos de ordem que lá se
deram e em reproduzir e ampliar cada um dos cartazes que por se lá viram,
alguns dos quais de muito má qualidade estética.
Na segunda-feira, quando o país acordou da letargia do fim-de-semana e teve de se deslocar para o emprego é que foram elas… Muitos dos portugueses como eu que trabalham na zona levaram mais de 1 hora a fazer o trajecto Campolide-Marquês. Ao escritório, uns frustrados, outros enervados lá foram chegando depois das 9h45.
É costume dizer-se, a título de paródia, que quando está um polícia a comandar o trânsito, a coisa complica-se ainda mais. Imagine-se agora o caos que se instala quando é o próprio Costa, Presidente da Câmara e máximo responsável pela polícia municipal para ali destacada a fazê-lo. O mesmo Costa quando entrevistado refere que a culpa é dos automobilistas que não compreenderam as novas regras de circulação e que estes dentro de um mês estarão perfeitamente habituados ao novo modelo rodoviário. Esta afirmação leva-me a fazer a mim próprio a seguinte questão: É o novo modelo de circulação tão complicado que levará um mês para que os automobilistas se habituem ou serão os lisboetas tão estúpidos que não entenderão uma simples alteração ao modelo funcional de tráfego na zona? Não fora o facto do Presidente da Câmara escolhido pelo eleitorado de Lisboa ser o António e a minha questão arriscava-se a ficar sem resposta.
José de Pina, com a sua habitual sagacidade e oportuno sentido de humor, escreveu na sua página do facebook “O drama do António Costa é o seguinte: um autarca, para ser autarca, tem de fazer rotundas. Mas em Lisboa já estão todas feitas. Resolveu fazer duplas rotundas. É de génio!“.
Mas deixemos por ora, os primeiros dias da nova vida do centro de Lisboa, que piorarão exponencialmente com a chegada das primeiras chuvas e foquemo-nos no essencial, ou seja, nos leitmotivs da obra.
Alguns dos meus Estimados Leitores já terão ouvido falar ou lido sobre a ZER, um acrónimo para Zona de Emissões Reduzidas, ou, na sua versão original LEZ, Low Emission Zone. Estas zonas muito comuns nas principais cidades do centro da Europa, mas inexistentes em países como Espanha e França, têm por objectivo reduzir a intensidade do tráfego em vias onde se registam elevados níveis de poluição do ar de forma a melhorar a sua qualidade. Sendo a Avenida da Liberdade uma das vias mais poluídas de toda a Europa, parece-me absolutamente razoável a tomada de medidas que visem reduzir estas emissões. Mas serão estas as mais correctas?
De acordo com um estudo efectuado pela própria câmara de Lisboa e apresentado em 2008, as viaturas ligeiras representavam 73% do total de veículos que utilizavam a artéria mas apenas eram responsáveis por 54% dos gases emitidos. Os táxis, cujo volume de tráfego significava apenas 17% do total de viaturas eram responsáveis pela emissão de 34% dos gases.
Em Julho de 2011, foi proibida a circulação na Avenida da Liberdade a veículos com data de construção anterior a 1992, o que por si só, aliviaria muitíssimo a emissão de gases dos veículos ligeiros particulares. Quanto aos táxis, nada se fez. Aliás, os lisboetas foram fortemente incentivados a não utilizar o carro nesta zona da cidade. Nos finais de tarde a zona já era de muito difícil circulação e a recente decisão de catalogar a zona como vermelha faz com que os preços do estacionamento sejam irreais face à situação financeira actual dos portugueses. Para muita gente cujo pensamento deriva para a esquerda, utilizar o carro para se deslocar é um vício burguês e absolutamente dispensável. Para outros, como eu que o utiliza como ferramenta de trabalho, é (deveria ser) um factor decisivo na produtividade do meu trabalho, beneficiando por isso, a empresa que represento e, por consequência, a economia e o próprio país.
A título de remate da questão ambiental e, pese embora não me sinta obviamente qualificado para o afirmar de forma peremptória, creio que o ambiente ficará bastante mais poluído se estiver 45 minutos para percorrer pouco mais do que um quilómetro do que se o fizer em menos de cinco minutos. É uma questão de puro bom senso, parece-me.
Num documento emitido pela Edilidade denominado O que nos propomos mudar na Avenida estão elencados os motivos destas alterações que custaram a uma câmara sobreendividada um custo adicional de seiscentos mil euros. Neste documento pode ler-se como objectivo primeiro a reformulação do perfil transversal da Avenida da Liberdade, de forma a: Racionalizar o uso do transporte individual; Controlar o tráfego automóvel nas vias laterais; Valorizar e ampliar os passeios contíguos ao edificado; Promover a ligação visual e funcional entre os passeios e as placas centrais ajardinadas; e ainda, promover uma boa rede de percursos pedonais ao longo da Avenida e entre as encostas; Apetece perguntar, como vai o António fazer tudo isto com umas simples obras no Marquês?
Vejamos:
Racionalizar o uso do transporte individual: Em algumas cidades modernas, este objectivo consegue-se através de políticas que actuem de forma profiláctica e educativa e não de modo coercivo e, dando aos munícipes, alternativas em termos de transporte público. Estas medidas têm normalmente objectivos de longo prazo e não visam uma restrição imediata a qualquer parte da cidade.
Controlar o tráfego automóvel nas vias laterais; Neste caso parece-me evidente que, dificultando-se a circulação nas vias centrais, as laterais tenderão a encher-se com mais facilidade;
Valorizar e ampliar os passeios contíguos ao edificado; Promover a ligação visual e funcional entre os passeios e as placas centrais ajardinadas; e ainda, Promover uma boa rede de percursos pedonais ao longo da Avenida e entre as encostas: Como? Com umas obras no Marquês de Pombal criando uma rotunda em redor de outra rotunda?
Não pretendo correr o risco de cansar quem me lê e de o fazer desistir de continuar, pelo que não insistirei nos considerandos. No entanto, nos próximos dias tratarei aqui de abordar os dois outros grandes objectivos da obra: O reordenamento do estacionamento e a reformulação e melhoria do esquema viário na Avenida da Liberdade e sua envolvente.
Na segunda-feira, quando o país acordou da letargia do fim-de-semana e teve de se deslocar para o emprego é que foram elas… Muitos dos portugueses como eu que trabalham na zona levaram mais de 1 hora a fazer o trajecto Campolide-Marquês. Ao escritório, uns frustrados, outros enervados lá foram chegando depois das 9h45.
É costume dizer-se, a título de paródia, que quando está um polícia a comandar o trânsito, a coisa complica-se ainda mais. Imagine-se agora o caos que se instala quando é o próprio Costa, Presidente da Câmara e máximo responsável pela polícia municipal para ali destacada a fazê-lo. O mesmo Costa quando entrevistado refere que a culpa é dos automobilistas que não compreenderam as novas regras de circulação e que estes dentro de um mês estarão perfeitamente habituados ao novo modelo rodoviário. Esta afirmação leva-me a fazer a mim próprio a seguinte questão: É o novo modelo de circulação tão complicado que levará um mês para que os automobilistas se habituem ou serão os lisboetas tão estúpidos que não entenderão uma simples alteração ao modelo funcional de tráfego na zona? Não fora o facto do Presidente da Câmara escolhido pelo eleitorado de Lisboa ser o António e a minha questão arriscava-se a ficar sem resposta.
José de Pina, com a sua habitual sagacidade e oportuno sentido de humor, escreveu na sua página do facebook “O drama do António Costa é o seguinte: um autarca, para ser autarca, tem de fazer rotundas. Mas em Lisboa já estão todas feitas. Resolveu fazer duplas rotundas. É de génio!“.
Mas deixemos por ora, os primeiros dias da nova vida do centro de Lisboa, que piorarão exponencialmente com a chegada das primeiras chuvas e foquemo-nos no essencial, ou seja, nos leitmotivs da obra.
Alguns dos meus Estimados Leitores já terão ouvido falar ou lido sobre a ZER, um acrónimo para Zona de Emissões Reduzidas, ou, na sua versão original LEZ, Low Emission Zone. Estas zonas muito comuns nas principais cidades do centro da Europa, mas inexistentes em países como Espanha e França, têm por objectivo reduzir a intensidade do tráfego em vias onde se registam elevados níveis de poluição do ar de forma a melhorar a sua qualidade. Sendo a Avenida da Liberdade uma das vias mais poluídas de toda a Europa, parece-me absolutamente razoável a tomada de medidas que visem reduzir estas emissões. Mas serão estas as mais correctas?
De acordo com um estudo efectuado pela própria câmara de Lisboa e apresentado em 2008, as viaturas ligeiras representavam 73% do total de veículos que utilizavam a artéria mas apenas eram responsáveis por 54% dos gases emitidos. Os táxis, cujo volume de tráfego significava apenas 17% do total de viaturas eram responsáveis pela emissão de 34% dos gases.
Em Julho de 2011, foi proibida a circulação na Avenida da Liberdade a veículos com data de construção anterior a 1992, o que por si só, aliviaria muitíssimo a emissão de gases dos veículos ligeiros particulares. Quanto aos táxis, nada se fez. Aliás, os lisboetas foram fortemente incentivados a não utilizar o carro nesta zona da cidade. Nos finais de tarde a zona já era de muito difícil circulação e a recente decisão de catalogar a zona como vermelha faz com que os preços do estacionamento sejam irreais face à situação financeira actual dos portugueses. Para muita gente cujo pensamento deriva para a esquerda, utilizar o carro para se deslocar é um vício burguês e absolutamente dispensável. Para outros, como eu que o utiliza como ferramenta de trabalho, é (deveria ser) um factor decisivo na produtividade do meu trabalho, beneficiando por isso, a empresa que represento e, por consequência, a economia e o próprio país.
A título de remate da questão ambiental e, pese embora não me sinta obviamente qualificado para o afirmar de forma peremptória, creio que o ambiente ficará bastante mais poluído se estiver 45 minutos para percorrer pouco mais do que um quilómetro do que se o fizer em menos de cinco minutos. É uma questão de puro bom senso, parece-me.
Num documento emitido pela Edilidade denominado O que nos propomos mudar na Avenida estão elencados os motivos destas alterações que custaram a uma câmara sobreendividada um custo adicional de seiscentos mil euros. Neste documento pode ler-se como objectivo primeiro a reformulação do perfil transversal da Avenida da Liberdade, de forma a: Racionalizar o uso do transporte individual; Controlar o tráfego automóvel nas vias laterais; Valorizar e ampliar os passeios contíguos ao edificado; Promover a ligação visual e funcional entre os passeios e as placas centrais ajardinadas; e ainda, promover uma boa rede de percursos pedonais ao longo da Avenida e entre as encostas; Apetece perguntar, como vai o António fazer tudo isto com umas simples obras no Marquês?
Vejamos:
Racionalizar o uso do transporte individual: Em algumas cidades modernas, este objectivo consegue-se através de políticas que actuem de forma profiláctica e educativa e não de modo coercivo e, dando aos munícipes, alternativas em termos de transporte público. Estas medidas têm normalmente objectivos de longo prazo e não visam uma restrição imediata a qualquer parte da cidade.
Controlar o tráfego automóvel nas vias laterais; Neste caso parece-me evidente que, dificultando-se a circulação nas vias centrais, as laterais tenderão a encher-se com mais facilidade;
Valorizar e ampliar os passeios contíguos ao edificado; Promover a ligação visual e funcional entre os passeios e as placas centrais ajardinadas; e ainda, Promover uma boa rede de percursos pedonais ao longo da Avenida e entre as encostas: Como? Com umas obras no Marquês de Pombal criando uma rotunda em redor de outra rotunda?
Não pretendo correr o risco de cansar quem me lê e de o fazer desistir de continuar, pelo que não insistirei nos considerandos. No entanto, nos próximos dias tratarei aqui de abordar os dois outros grandes objectivos da obra: O reordenamento do estacionamento e a reformulação e melhoria do esquema viário na Avenida da Liberdade e sua envolvente.
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