Páginas

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O Fim da Avenida da Liberdade

O novo plano rodoviário para o eixo Avenida-Marquês, não só é um absurdo urbanístico e funcional como acabará por contagiar esta zona da cidade com os males que hoje reconhecemos à baixa pombalina e, não cumprirá nenhum dos objectivos a que se propõe.
 
Outrora denominada Passeio Público, a Avenida da Liberdade conheceu a sua configuração actual no já longínquo ano de 1886. A decoração com largas zonas pedonais, densa arborização, lagos, cascatas e jardins resplandecentes de cíclames e azáleas tinha como objectivo recriar os grandes boulevars parisiennes, porventura tentando atrair para a capital portuguesa os ilustres escritores, pintores e outros artistas que na cidade luz haviam encontrado o espaço ideal para estimular o esplendor da sua genialidade.
 
Em 2006, quando ainda se lecionava nas faculdades portuguesas a ideia de que pagar dívidas seria coisa de meninos, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu requalificar esta zona, plantando aproximadamente 30.000 novas flores. António Prôa, à data vereador com o pelouro do ambiente e espaços verdes, anunciou um investimento (de duvidoso retorno) de aproximadamente 1,3 milhões de euros em flores, afirmando que “sendo a Avenida da Liberdade uma artéria fundamental da cidade, é prioridade da autarquia manter esta zona como uma das mais bonitas e emblemáticas de Lisboa".
 
Na verdade a Avenida da Liberdade é um vale que separa as colinas de Lisboa e que divide pelo meio a área oriental e ocidental do centro da cidade. Sendo considerada a 35ª artéria mais valiosa do mundo foi no último século ocupada por teatros e cinemas, por zonas comerciais e por escritórios, reduzindo-se gradualmente a área dedicada à habitação e ao espaço lúdico.
 
Alguns dos mais belos edifícios foram recuperados e modernizados e outros houve que, sem respeitar qualquer tipo de traça urbanística, foram sido construídos de raiz com variadíssimas volumetrias e estilos arquitetónicos resultando, não poucas vezes, em autênticas aberrações e atentados ao bom gosto independentemente da corrente artística predilecta do observador.
 
Todas estas construções e requalificações representaram avultados investimentos de privados que se propuseram erguer os seus edifícios de escritórios para os alugar aos preços mais caros da cidade.
 
Hoje, fruto das circunstâncias económicas que vivemos, as empresas ali sediadas viram-se, em muitos casos, obrigadas a mudar-se para zonas menos nobres da cidade ou para muito mais modernos e menos dispendiosos polos empresariais de que são exemplo a Quinta da Fonte e o Lagoas Park, ambos em Oeiras, ou o Parque das Nações em Lisboa. Estas novas estruturas oferecem modernidade, funcionalidade e sobretudo acessibilidade: Todas elas se encontram junto de auto estradas ou de importantes nós rodoviários.
 
Deste modo, tem vindo a acentuar-se a desertificação da Avenida da Liberdade, despida de habitação primeiro e de escritórios depois. O comércio tradicional tem-se ressentido do desaparecimento do povo que ali trabalhava ou vivia e para animação e valorização do espaço apenas contribuem hoje as lojas de haute couture como a Prada, a Gucci ou a Louis Vuitton, cada vez menos frequentadas pelos nativos e cada vez mais frequentadas pelas elites angolanas.

Como em próximas publicações terei oportunidade de explicar, o novo plano rodoviário para o eixo Avenida-Marquês, não só é um absurdo urbanístico e funcional como acabará por contagiar esta zona da cidade com os males que hoje reconhecemos à baixa pombalina e não cumprirá nenhum dos objectivos a que se propõe.  
 
Algum de vós imagina uma empresa de sucesso, das poucas que criam emprego e riqueza, a instalar-se num edifício pombalino, tendo os seus quadros que se deslocar de transportes públicos até ao seu escritório na baixa da cidade?



Sem comentários:

Enviar um comentário