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domingo, 23 de setembro de 2012

Por Portugal e pelos Portugueses. Unicamente!

Não quero ser comparado aos gregos, não por serem gregos, mas tão somente por não serem portugueses. Também não quero ser espanhol, nem alemão, nem sequer americano ou australiano... Só quero ser português!

O NIMBUS está muito perto de atingir os seus primeiros 500 views. O número é ainda algo insípido, mas atendendo a que nasceu há pouco mais de duas semanas, considero, à luz do desafio que eu próprio me havia imposto, que se trata de um sinal que suscita em mim o desejo de continuar a publicar aqui as minhas opiniões.
 
Pelos mesmos meios em que tento a promoção deste espaço, estimulo e aprecio com grande humildade todas as críticas que me são dirigidas. É com estas que pretendo crescer e aprender, evoluir e melhorar. Escuto a todas com a mesma atenção e interesse. Todas elas têm em mim o efeito de um dínamo numa velha bicicleta: geram luz e clarividência.
 
Importa no entanto referir que um blog não é um site de notícias, mas sim um veículo de testemunhos, opiniões pessoais e pessoalizadas no qual, o seu promotor deve exprimir-se se forma genuína e de acordo com os seus princípios, devendo os seus leitores, democraticamente, aceitar a visão que ali se transcreve, concordar, comentar e discordar se o entenderem razoável ou, simplesmente deixar de o ler, se o seu entendimento é de que o seu conteúdo não gera interesse suficiente. 
 
Uma das criticas (ou referências) que mais me têm ecoado é a de que sou um simpatizante da troika, simplesmente porque publiquei dois apontamentos sobre este tema tão caro aos portugueses.
 
Para aqueles que, por cegueira ou emotividade acham isso, gostava de afirmar que não sou nem a favor nem contra a troika. Não defendo nem ataco as políticas deste governo e nem os seus putativos assentimentos às imposições da troika ou da Senhora Merkel.
 
Tenho por objecto defender, unicamente, Portugal e os Portugueses, os seus direitos e obrigações, e defendo, principalmente, o seu passado, o seu presente e o seu futuro.
 
Constituímos um país dos mais velhos da Europa. Um país com quase 900 anos de uma história que nos deve orgulhar a todos enquanto comunidade; Uma nação que partiu deste rectângulo, cruzou mares e deu novos mundos ao mundo; Um país que soube construir o seu império ultramarino, de Angola a Malaca, de Goa ao Brasil; Somos um povo que soube resistir e derrubar uma ditadura; Somos, definitivamente um povo de grandes feitos cujas qualidades e tradições são apreciadas em todo o mundo.
 
Somos um povo caloroso e afável, inteligente e empreendedor e são muitos os exemplos de que dispomos para nos orgulhar de aqui ter nascido. De ter nascido em Portugal. De ter nascido português.
 
Mas ser português é, muito mais do que isso. É saber resistir, lutar, sofrer. É olhar o mundo de olhos bem levantados. É afirmar que somos um povo de homens e mulheres de caracter que cumpre as suas obrigações individuais e colectivas, que somos merecedores da confiança dos outros povos e que jamais deixaremos de exultar a nossa independência ainda que esta possa estar momentaneamente em causa.
 
O que quero para o meu país, é o melhor! Quero prosperidade e riqueza. Quero futuro! Mas quero também que mantenhamos os nossos valores. Aqueles que os nossos antepassados, mais ou menos longíquos nos transmitiram, de geração em geração, do avô para o pai e do pai para o filho. Quero uma nação e um povo honorável e honrado, trabalhador e honesto.
 
Não quero ser comparado aos gregos, não por serem gregos, mas tão somente por não serem portugueses. Também não quero ser espanhol, nem alemão, nem sequer americano ou australiano... Só quero ser português!
 
Ao defender que se actue em conformidade com o Memorando de Entendimento sobre as Condionalidades da Política Económica, apenas pretendo que mantenhamos a imagem de povo honrado que somos, que lutemos, que cumpramos e que possamos continuar a olhar os outros de olhos nos olhos, com a confiança de sermos um povo capaz, tão ou mais capaz do que qualquer outro.
 
Nos últimos 40 anos, a nossa nação foi reiteradamente vilipendiada. Demos aos outros os territórios conquistados com o sangue dos portugueses, depois de muitos destes se terem sacrificado para os manter. Desbaratámos o nosso património agrícola e industrial a troco de uns trocos de Bruxelas e delapidámos os nossos recursos colectivos alimentando e engordando as empresas e os empresários do regime, os amigos dos governantes, os que têm peso e que efectivamente mandam naquilo em que Portugal ainda manda.
 
Fruto de inúmeras opções políticas, erráticas, suicidas e criminosas, chegámos aqui. E este  'aqui', significa tudo quanto já sabemos e que não é novidade. Estamos de tanga e em vias de ter de a despir e vender. Estamos obrigados a um sem número de sacrifícios devido a estas opções que devíamos reprimir e condenar fortemente.

O aumento da TSU é desconcertantemente condenável, mas a receita é necessária, fundamental e imprescindível. A sua não aplicação e aprovação, por mais cruel que seja, apenas apelará à criatividade dos governantes para nos tirarem o mesmo de forma diferente. Desenganem-se aqueles que pensam que, ao recuar com as medidas, o governo vai abdicar dessa receita. Não pode. Não lhe é permitido. A máquina do estado é demasiado despesista e imparável a gastar, a nomear, a construir e, enquanto não se encontrar a fórmula de reduzir a sua compulsividade pela despesa, não será possível chegar a nenhuma das coisas de que todos, enquanto nação, necessitamos.
 
É legítimo juntar um milhão de pessoas na rua para protestar contra as medidas de austeridade negociadas entre a troika e a classe política representativa? Sim, é, objectivamente!

É legítimo lutar pelos nossos direitos? Sim, mas apenas na medida em que estivermos disponíveis para rever igualmente as nossas obrigações.

É legítimo culpabilizar os actuais governantes, o Primeiro-Ministro,  Pedro Passos Coelho e o seu elenco? Sim, mas o que dizer de António Guterres e de Durão Barroso? De Pedro Santana Lopes e sobretudo de José Sócrates? Será legítimo culpabilizar uns sem referir os outros?

E será legítimo aos outros fazer de conta de que não são eles próprios?
 
 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Passeio do António

José de Pina, com a sua habitual sagacidade e oportuno sentido de humor, escreveu na sua página do facebookO drama do António Costa é o seguinte: um autarca, para ser autarca, tem de fazer rotundas. Mas em Lisboa já estão todas feitas. Resolveu fazer duplas rotundas. É de génio!“.

Tinha ficado a promessa de que voltaria aqui ao tema das alterações rodoviárias no Marquês de Pombal e na Avenida da Liberdade. Decidi, no entanto, fazer uma espécie de período de nojo, não deixando que as horas perdidas a chegar à placa central de Lisboa me tolhessem a clarividência do pensamento e influenciassem negativamente a opinião sobre a obra e sobre as motivações que a levaram a ser efectuada.

No passado dia 15, sábado, entraram em funcionamento as alterações propostas para a circulação automóvel. Durante o fim-de-semana, nada se passou ou relatou relativamente a estas alterações. Os media e, por consequência, o povo, esteve sobretudo preocupado com a manifestação, com o que se lá passou, com os gritos de ordem que lá se deram e em reproduzir e ampliar cada um dos cartazes que por se lá viram, alguns dos quais de muito má qualidade estética.

Na segunda-feira, quando o país acordou da letargia do fim-de-semana e teve de se deslocar para o emprego é que foram elas… Muitos dos portugueses como eu que trabalham na zona levaram mais de 1 hora a fazer o trajecto Campolide-Marquês. Ao escritório, uns frustrados, outros enervados lá foram chegando depois das 9h45.

É costume dizer-se, a título de paródia, que quando está um polícia a comandar o trânsito, a coisa complica-se ainda mais. Imagine-se agora o caos que se instala quando é o próprio Costa, Presidente da Câmara e máximo responsável pela polícia municipal para ali destacada a fazê-lo. O mesmo Costa quando entrevistado refere que a culpa é dos automobilistas que não compreenderam as novas regras de circulação e que estes dentro de um mês estarão perfeitamente habituados ao novo modelo rodoviário. Esta afirmação leva-me a fazer a mim próprio a seguinte questão: É o novo modelo de circulação tão complicado que levará um mês para que os automobilistas se habituem ou serão os lisboetas tão estúpidos que não entenderão uma simples alteração ao modelo funcional de tráfego na zona? Não fora o facto do Presidente da Câmara escolhido pelo eleitorado de Lisboa ser o António e a minha questão arriscava-se a ficar sem resposta.

José de Pina, com a sua habitual sagacidade e oportuno sentido de humor, escreveu na sua página do facebookO drama do António Costa é o seguinte: um autarca, para ser autarca, tem de fazer rotundas. Mas em Lisboa já estão todas feitas. Resolveu fazer duplas rotundas. É de génio!“.

Mas deixemos por ora, os primeiros dias da nova vida do centro de Lisboa, que piorarão exponencialmente com a chegada das primeiras chuvas e foquemo-nos no essencial, ou seja, nos leitmotivs da obra.

Alguns dos meus Estimados Leitores já terão ouvido falar ou lido sobre a ZER, um acrónimo para Zona de Emissões Reduzidas, ou, na sua versão original LEZ, Low Emission Zone. Estas zonas muito comuns nas principais cidades do centro da Europa, mas inexistentes em países como Espanha e França, têm por objectivo reduzir a intensidade do tráfego em vias onde se registam elevados níveis de poluição do ar de forma a melhorar a sua qualidade. Sendo a Avenida da Liberdade uma das vias mais poluídas de toda a Europa, parece-me absolutamente razoável a tomada de medidas que visem reduzir estas emissões. Mas serão estas as mais correctas?

De acordo com um estudo efectuado pela própria câmara de Lisboa e apresentado em 2008, as viaturas ligeiras representavam 73% do total de veículos que utilizavam a artéria mas apenas eram responsáveis por 54% dos gases emitidos. Os táxis, cujo volume de tráfego significava apenas 17% do total de viaturas eram responsáveis pela emissão de 34% dos gases.

Em Julho de 2011, foi proibida a circulação na Avenida da Liberdade a veículos com data de construção anterior a 1992, o que por si só, aliviaria muitíssimo a emissão de gases dos veículos ligeiros particulares. Quanto aos táxis, nada se fez. Aliás, os lisboetas foram fortemente incentivados a não utilizar o carro nesta zona da cidade. Nos finais de tarde a zona já era de muito difícil circulação e a recente decisão de catalogar a zona como vermelha faz com que os preços do estacionamento sejam irreais face à situação financeira actual dos portugueses. Para muita gente cujo pensamento deriva para a esquerda, utilizar o carro para se deslocar é um vício burguês e absolutamente dispensável. Para outros, como eu que o utiliza como ferramenta de trabalho, é (deveria ser) um factor decisivo na produtividade do meu trabalho, beneficiando por isso, a empresa que represento e, por consequência, a economia e o próprio país.

A título de remate da questão ambiental e, pese embora não me sinta obviamente qualificado para o afirmar de forma peremptória, creio que o ambiente ficará bastante mais poluído se estiver 45 minutos para percorrer pouco mais do que um quilómetro do que se o fizer em menos de cinco minutos. É uma questão de puro bom senso, parece-me.

Num documento emitido pela Edilidade denominado O que nos propomos mudar na Avenida estão elencados os motivos destas alterações que custaram a uma câmara sobreendividada um custo adicional de seiscentos mil euros. Neste documento pode ler-se como objectivo primeiro a reformulação do perfil transversal da Avenida da Liberdade, de forma a: Racionalizar o uso do transporte individual; Controlar o tráfego automóvel nas vias laterais; Valorizar e ampliar os passeios contíguos ao edificado; Promover a ligação visual e funcional entre os passeios e as placas centrais ajardinadas; e ainda, promover uma boa rede de percursos pedonais ao longo da Avenida e entre as encostas; Apetece perguntar, como vai o António fazer tudo isto com umas simples obras no Marquês?

Vejamos:

Racionalizar o uso do transporte individual: Em algumas cidades modernas, este objectivo consegue-se através de políticas que actuem de forma profiláctica e educativa e não de modo coercivo e, dando aos munícipes, alternativas em termos de transporte público. Estas medidas têm normalmente objectivos de longo prazo e não visam uma restrição imediata a qualquer parte da cidade.

Controlar o tráfego automóvel nas vias laterais; Neste caso parece-me evidente que, dificultando-se a circulação nas vias centrais, as laterais tenderão a encher-se com mais facilidade;

Valorizar e ampliar os passeios contíguos ao edificado; Promover a ligação visual e funcional entre os passeios e as placas centrais ajardinadas; e ainda, Promover uma boa rede de percursos pedonais ao longo da Avenida e entre as encostas: Como? Com umas obras no Marquês de Pombal criando uma rotunda em redor de outra rotunda?

Não pretendo correr o risco de cansar quem me lê e de o fazer desistir de continuar, pelo que não insistirei nos considerandos. No entanto, nos próximos dias tratarei aqui de abordar os dois outros grandes objectivos da obra: O reordenamento do estacionamento e a reformulação e melhoria do esquema viário na Avenida da Liberdade e sua envolvente.
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Os Paralímpicos

Lamentável mesmo é este muito gasto e usado estilo lusitano de justificar fracassos culpando os outros.

Mais do que a quantidade de medalhas que os nossos Paralímpicos trouxeram para Portugal é verdadeiramente assinalável a forma como estas pessoas, portadoras de graves deficiências físicas e mentais, se dedicam à sua actividade, ao seu desporto, fazendo dele uma verdadeira causa, um autêntico modo de vida.
 
No entanto, nem tudo são boas notícias.

Nem o facto do Programa Paralímpicos Londres 2012 ter beneficiado do maior apoio financeiro de sempre (1,9 milhões de euros) nos livrou da pior prestação alguma vez conseguida.
 
Mas lamentável mesmo é este muito gasto e usado estilo lusitano de justificar fracassos culpando os outros. Parece um hábito que chegou em 1986 a Saltillo no México e que, como a Toyota, parece ter vindo para ficar.
 
A hora do balanço é sempre um desfilar de críticas dos atletas à organização e da organização não se sabe bem a quem...

Não fica bem. Fica, aliás, pessimamente: A uns e a outros.

 

domingo, 9 de setembro de 2012

Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades da Política Económica

Para os que ainda têm dúvidas sobre ao que estamos obrigados nos próximos anos como contrapartida pelo resgate de 78 mil milhões de euros, aqui fica o link para o documento na íntegra.

Memorando de Entendimento sobre as Condicionalidades da Política Económica

Querem fazer de conta de que não existe?

A defesa dos que não atacam a Troika

Por parte da Troika, o acordo tem sido escrupulosamente cumprido: As tranches de dinheiro têm chegado conforme previsto e fomos nós portugueses quem não foi capaz de cumprir a sua parte do Acordo.

A Troika tem origem num vocábulo russo que designa um comité composto por 3 membros. Na sua génese define um carro conduzido por três cavalos alinhados lado a lado.
Politicamente, a palavra é geralmente aplicada para definir um conjunto de três personagens com idênticos poderes que se reúnem num esforço único e uniforme para gerir uma entidade, numa situação de crise ou para cumprir uma missão.
A Troika que chegou a Portugal depois de ter sido chamada a acudir à Grécia e à Irlanda é composta por membros do Fundo Monetário Internacional, do Banco Central Europeu e por membros da União Europeia, nomeadamente pelos Senhores Poul Thomsen (FMI),  Rasmus Ruffer (BCE) e Jurgen Kroger (UE).
Importa referir aos mais distraídos e esquecidos que esta comitiva não nasceu no Terreiro do Paço por geração espontânea. A 6 de Abril de 2011 numa conferência de imprensa marcada pelo episódio do perfil televisivo mais favorável do Primeiro Ministro, estas Entidades foram chamadas para ajudar os portugueses depois do então Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, ter pressionado fortemente o também então Primeiro Ministro José Sócrates a solicitar apoio externo, uma vez que se verificavam duas situações de óbvia emergência nacional: As taxas de juro cobradas pelos mercados na emissão de dívida soberana eram impossíveis de continuar a suportar e o país estava na iminência de não ter dinheiro para pagar salários a funcionários públicos e pensionistas logo em Junho de 2011.
A comitiva viajou para Portugal para fazer uma análise séria da situação do país e quis reunir com todos os Partidos e demais Parceiros Sociais, nomeadamente os Sindicatos, tentando encontrar pontos de convergência que permitissem resolver a referida situação de emergência. Os Partidos ditos do arco da governação (PS, PSD e CDS-PP) reuniram-se com a troika após dias de análise às contas públicas e os partidos da esquerda (PCP e BE), também chamados a reunirem-se e a pronunciarem-se sobre o estado da nação, preferiram, por puro tacticismo político, não se reunir e não participar das negociações. As centrais sindicais, UGT e a CGTP, optaram igualmente por não participar no acordo libertando-se, todos eles, das amarras a que estariam sujeitos no futuro.
O Partido Socialista, no governo com maioria parlamentar, o Partido Social Democrata e o CDS-PP, assinaram então um famoso documento, o Memorando de Entendimento Sobre as Condicionalidades da Política Económica, que não mais é do que um contrato entre dois conjuntos de Entidades que tem subjacente uma lógica que em caso algum é diferente da aplicada anteriormente na Grécia e na Irlanda:
O Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a União Europeia comprometem-se a entregar, por tranches devidamente calendarizadas, um montante de 78 mil milhões de Euros de ajuda, estabelecendo igualmente um conjunto de avaliações trimestrais para analisar a evolução das contas públicas nacionais e, os Partidos que se preparavam para disputar eleições, comprometeram-se a tomar medidas no sentido de conter a despesa pública e tornar o país mais competitivo.
Por parte da Troika, o acordo tem sido escrupulosamente cumprido: As tranches de dinheiro têm chegado conforme previsto e fomos nós portugueses quem não foi capaz de cumprir a sua parte do Acordo.
O Memorando de Entendimento Sobre as Condicionalidades da Política Económica é muito claro e nele, os representantes eleitos pelos portugueses concordam em manter uma política orçamental muito austera, a incrementar a receita através do aumento generalizado de todos os impostos e redução das deduções, e a reduzir substancialmente a despesa do Estado atingindo um défice máximo de 4,5% no final de 2012 e de 3,0% no final de 2013.
No comummente chamado memorando da troika, os representantes nacionais comprometem-se entre muitas outras coisas a melhorar o funcionamento da administração central, eliminando duplicações, aumentando a eficiência, reduzindo e extinguindo serviços que não representem uma utilização eficaz de fundos públicos implementando (entre outras) as seguintes medidas:
  1. Reduzir o número de serviços mantendo a qualidade na prestação de serviço público;
  2. Criar um serviço único tributário e promover serviços partilhados entre as diferentes áreas da Administração Pública;
  3. Reorganizar as administrações local e regional e a prestação de serviços da administração central a nível local;
  4. Avaliar periódica e regularmente a eficiência e eficácia dos diversos serviços públicos; que integram as Administrações Públicas
  5. Promover a mobilidade dos trabalhadores nas administrações central, regional e local;
  6. Reduzir as transferências do Estado para Serviços e Fundos Autónomos;
  7. Rever as políticas remuneratórias e as prestações acessórias das entidades públicas e das entidades que estabelecem com independência os seus regimes de remuneração;
  8. Reduzir subsídios a produtores privados de bens e serviços;
  9. Reduzir custos na área de educação, através da racionalização da rede escolar criando agrupamentos escolares, diminuindo a necessidade de contratação de recursos humanos, centralizando os aprovisionamentos, e reduzindo e racionalizando as transferências para escolas privadas com contratos de associação;
  10. Limitar admissões de pessoal na administração pública nas administrações local e regional;
  11.  Congelar salários no sector público, em termos nominais e limitar promoções.
  12.  Reduzir o custo orçamental global com sistemas de saúde dos trabalhadores em funções públicas (ADSE, ADM e SAD) diminuindo a comparticipação da entidade empregadora e ajustando o âmbito dos benefícios de saúde;
  13. Controlar os custos no sector da saúde;
  14. Reduzir as pensões acima de 1.500 euros,
  15. Suspender a aplicação das regras de indexação de pensões e congelar as mesmas, excepto para as pensões mais reduzidas;
  16. Reformar as prestações de desemprego;
  17. Reduzir as transferências para as administrações local e regional, no âmbito do contributo deste subsector para a consolidação orçamental;
  18. Reduzir os custos no Sector Empresarial do Estado (SEE);”
As 35 páginas do Memorando de Entendimento Sobre as Condicionalidades da Política Económica impõem aos portugueses muitas outras medidas duríssimas e mensuráveis para os próximos anos e tentar cumpri-las pode dar-nos o direito a pedir a sua revisão. Para já, o esforço tem sido enaltecido mas é claramente insuficiente, levando o governo actual a anunciar novas e mais duras medidas de austeridade.

Sabem quantos votos perdeu o Primeiro Ministro na passada sexta-feira? Acham que existe algum governo, de direita ou de esquerda, que simpatize com momentos em que o seu líder tenha de anunciar medidas como estas que afectam todos os portugueses?

Sindicatos e oposição não esperaram um só minuto para emitir as suas posições, mas só por incúria ou pura maledicência se pode dizer que aliviar a carga tributária das empresas para a segurança social é beneficiar os ricos.
 
Conheço alguns proprietários de pequenas empresas sufocadas que tentam a todo o custo manter os seus trabalhadores apesar de todos os encargos e das responsabilidades que representa hoje ter empregados.

Conheço igualmente imensos casos de falências de empresas que encerram a sua actividade ou que não pagam atempadamente salários porque trabalham para um Estado que não lhe paga mas também não lhes admite que não paguem na hora as suas contribuições para a Segurança Social ou que não entreguem o IVA dentro do prazo limite.

Eu sou trabalhador por conta de outrem, nunca fui empresário nem desejo sê-lo. Vou entre muitas outras coisas e como todos os outros, pagar mais um mês de retribuição ao estado em 2013 mas entendo que, fruto daquilo que foi a política e o comportamento social e laboral dos portugueses nos últimos 30 anos e ao acordado com quem, repito, nos entregou 78 mil milhões de euros, é um esforço que todos temos de fazer.

O que acho absolutamente inadequado é esta rotulagem da esquerda: Com o nosso anterior Primeiro Ministro, que passou a comprar os seus fatos em Beverly Hills por mais de 50 mil euros cada, era rico quem tivesse salários de cinco mil euros, (pagando metade em impostos e contribuições) e agora passou a ser rico quem é empresário.

É o caso do meu amigo Henrique, sapateiro de profissão e forçosamente empresário. Está rico a colocar capas e meias solas em sapatos e vai ficar muito mais por pagar menos 5% de TSU!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O Fim da Avenida da Liberdade

O novo plano rodoviário para o eixo Avenida-Marquês, não só é um absurdo urbanístico e funcional como acabará por contagiar esta zona da cidade com os males que hoje reconhecemos à baixa pombalina e, não cumprirá nenhum dos objectivos a que se propõe.
 
Outrora denominada Passeio Público, a Avenida da Liberdade conheceu a sua configuração actual no já longínquo ano de 1886. A decoração com largas zonas pedonais, densa arborização, lagos, cascatas e jardins resplandecentes de cíclames e azáleas tinha como objectivo recriar os grandes boulevars parisiennes, porventura tentando atrair para a capital portuguesa os ilustres escritores, pintores e outros artistas que na cidade luz haviam encontrado o espaço ideal para estimular o esplendor da sua genialidade.
 
Em 2006, quando ainda se lecionava nas faculdades portuguesas a ideia de que pagar dívidas seria coisa de meninos, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu requalificar esta zona, plantando aproximadamente 30.000 novas flores. António Prôa, à data vereador com o pelouro do ambiente e espaços verdes, anunciou um investimento (de duvidoso retorno) de aproximadamente 1,3 milhões de euros em flores, afirmando que “sendo a Avenida da Liberdade uma artéria fundamental da cidade, é prioridade da autarquia manter esta zona como uma das mais bonitas e emblemáticas de Lisboa".
 
Na verdade a Avenida da Liberdade é um vale que separa as colinas de Lisboa e que divide pelo meio a área oriental e ocidental do centro da cidade. Sendo considerada a 35ª artéria mais valiosa do mundo foi no último século ocupada por teatros e cinemas, por zonas comerciais e por escritórios, reduzindo-se gradualmente a área dedicada à habitação e ao espaço lúdico.
 
Alguns dos mais belos edifícios foram recuperados e modernizados e outros houve que, sem respeitar qualquer tipo de traça urbanística, foram sido construídos de raiz com variadíssimas volumetrias e estilos arquitetónicos resultando, não poucas vezes, em autênticas aberrações e atentados ao bom gosto independentemente da corrente artística predilecta do observador.
 
Todas estas construções e requalificações representaram avultados investimentos de privados que se propuseram erguer os seus edifícios de escritórios para os alugar aos preços mais caros da cidade.
 
Hoje, fruto das circunstâncias económicas que vivemos, as empresas ali sediadas viram-se, em muitos casos, obrigadas a mudar-se para zonas menos nobres da cidade ou para muito mais modernos e menos dispendiosos polos empresariais de que são exemplo a Quinta da Fonte e o Lagoas Park, ambos em Oeiras, ou o Parque das Nações em Lisboa. Estas novas estruturas oferecem modernidade, funcionalidade e sobretudo acessibilidade: Todas elas se encontram junto de auto estradas ou de importantes nós rodoviários.
 
Deste modo, tem vindo a acentuar-se a desertificação da Avenida da Liberdade, despida de habitação primeiro e de escritórios depois. O comércio tradicional tem-se ressentido do desaparecimento do povo que ali trabalhava ou vivia e para animação e valorização do espaço apenas contribuem hoje as lojas de haute couture como a Prada, a Gucci ou a Louis Vuitton, cada vez menos frequentadas pelos nativos e cada vez mais frequentadas pelas elites angolanas.

Como em próximas publicações terei oportunidade de explicar, o novo plano rodoviário para o eixo Avenida-Marquês, não só é um absurdo urbanístico e funcional como acabará por contagiar esta zona da cidade com os males que hoje reconhecemos à baixa pombalina e não cumprirá nenhum dos objectivos a que se propõe.  
 
Algum de vós imagina uma empresa de sucesso, das poucas que criam emprego e riqueza, a instalar-se num edifício pombalino, tendo os seus quadros que se deslocar de transportes públicos até ao seu escritório na baixa da cidade?



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Prefácio

Desde há muito que sinto uma enorme vontade de escrever, de me fazer ouvir através da escrita, de emitir a minha opinião ou simples ponto de vista de forma livre e arbitrária sem estar condicionado ou restrito a determinado tema ou assunto.

Quando petiz estudante, foi a putativa qualidade da minha escrita, a responsável pelo não insucesso em algumas disciplinas como o português, a história ou a filosofia. Escrever muito e de forma entusiasta foi sempre refúgio para a falta de aplicação nos estudos. Ainda que não dominasse o assunto ou não soubesse responder à pergunta, a forma abnegada com que debitava palavras na folha de ponto foram sempre suficientes para obter resultados satisfatórios.

Mais tarde, no início dos anos 90, enquanto profissional que baseou a sua actividade no contacto com os outros, a chegada do correio electrónico veio facilitar-me bastante a vida. Voltei a poder escrever todos os dias, com toda a gente e com muita gente ao mesmo tempo ao invés de falar, algo para que não me considero especialmente habilitado.

Há pouco tempo atrás, estreei-me no facebook. Esta experiência funcionou (e funciona) como uma espécie de tirocínio. Publico pequenas opiniões sobre vários temas e com a liberdade que a mente me permite muitas vezes de forma intensa e demasiado apaixonada, mas acreditem ou não, sinto-me paradoxalmente algo claustrofóbico e limitado.

Sou um homem de paixões, de fortes convicções, que as assume e as defende até ser objectivamente possível. Não desejo que aqueles que eventualmente me lerão não tenham ideia de quem sou, daquilo que penso, e daquilo que faço.

Para que não existam dúvidas, deixo a minha declaração de interesses, bem à moda dos media norte americanos: Sou um adepto fervoroso de futebol nutrindo uma paixão intensíssima pelo Sporting, e não sendo particularmente seguidor do Edil de Gaia, costumo considerar-me um sulista, elitista e sobretudo um liberal.

Apesar da educação cristã, sou hoje agnóstico e, uma vez mais paradoxalmente, simpatizante da causa monárquica.

Assumirei aqui ao longo dos meus testemunhos todos esses amores e desamores, aquilo que me entusiasma e aquilo que me repugna, configurando na essência a ideia que tenho do bem e do mal, do aceitável e do criticável.

Jamais me sentirei preso a qualquer espécie de linha editorial ou corrente de pensamento. Não quero ser um colunista que escreve unicamente sobre determinados temas. O objectivo deste espaço é o de expressar a minha visão do mundo, situado num determinado local, personalizado numa determinada figura ou focado num qualquer acontecimento. Escreverei livremente e isso significa escrever sobre o que me apetecer num espaço que, perdoe-se-me a arrogância, me pertence e que pertencerá a quem me quiser ler.

Este blog será forçosamente o reflexo da alma, da minha alma. Escreverei aqui sobre factos, personagens históricas ou contemporâneas, sobre lugares e viagens, sobre tudo e sobre todos, expressando-me ora de forma satírica, irónica e até cómica, ora de forma séria, assertiva e agastada.

Tenho dúvidas se serei capaz de escrever com a assiduidade com que o pretendo fazer e o feedback obtido por aqueles que dedicarão algum tempo a ler-me por certo acelerará ou abrandará o ritmo das minhas publicações. Prometo apenas tentar, disciplinando a minha vontade.

Para me estrear neste projecto muito contribuiu a sagacidade e preserverança de um amigo, ele sim, um verdadeiro blogger que com a sua determinação e auto disciplina se dedica todos os domingos a emitir a sua opinião sobre variadíssimos factos. Esse amigo é o Nuno M. Oliveira, fundador do Assim vão as cousas, que teve já a ousadia, imagine-se, de publicar dois livros de crónicas!

À família, uma dedicação especial: Sem amor, nada se consegue. Sou, nesse aspecto um privilegiado: Tenho o amor da minha mulher Carmen, dos nossos filhos, Catarina, Beatriz e Marcos e da restante família. É a vós que dedico, para a posteridade, os momentos em que, em frente deste ou de outro computador, tentarei de forma lógica articular as palavras com os pensamentos.

E para prefácio já chega...