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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Marquesa de Alorna

A verdadeira vergonha desta história é que o prémio D. Dinis, entregue pela Fundação Casa de Mateus é financiado a cem por cento pelo estado português, ou seja, é pago por todos nós, contribuintes (...) pelo que espero agora que jornais, rádios e televisões tragam a boa nova de que a escritora decidiu devolver o cheque à Fundação, que o doou a alguma instituição de caridade ou que o distribuiu pelos desempregados e reformados de acordo com os seus valores de Abril.

A Fundação Casa de Mateus institui uem 1980 um prémio literário denominado D. Dinis. Desde então, este galardão foi sucessivamente valorizado pela sua entrega a figuras ímpares da nossa história literária contemporânea como Agustina Bessa-Luis (1980), Vergílio Ferreira (1981), Fernando Namora (1982), David Mourão Ferreira (1986), Eugénio de Andrade (1987), Sophia de Mello Breyner Andersen (1989) José Cardoso Pires (1997) ou António Lobo Antunes (1999).

Recentemente, o júri composto por Vasco Graça Moura, Fernando Pinto do Amaral e Nuno Júdice, decidiu atribuir o prémio de 2011 a Maria Teresa Horta pelo seu romance histórico, As luzes de Leonor.

Maria Teresa Horta, nasceu em 1937, e é oriunda de uma família da alta aristocracia portuguesa, que conta com antepassados ilustres como os Condes de Coculim, os Condes de Assumar e os Condes da Torre e ainda com os Marqueses de Fronteira e os Marqueses de Alorna.

Percorreu enquanto jornalista um conjunto de jornais de referência, como O Século, a Capital ou o Diário de Notícias e o seu primeiro título editado em 1960 foi o Espelho Inicial. Foi uma feminista fervorosa tendo feito parte do Movimento de Libertação da Mulher e foi, durante 14 anos, militante do Partido Comunista Português do qual saiu no início dos anos 80 num processo que considerou “muito doloroso, que penosamente se prolongou, ao longo de dois longuíssimos anos”.

Mais do que pelos seus dotes literários provavelmente herdados da também poetisa Marquesa de Alorna, sua antepassada, tem sido motivo de notícia nos últimos dias por se ter recusado receber o prémio das mãos do Primeiro-ministro Pedro Passos Coelho considerando ser “inadmissível receber o prémio de alguém que protagoniza a política que aumenta o desemprego, a pobreza, retira aos reformados o que lhe é devido por terem descontado durante a vida e elimina todos os valores de Abril em Portugal."

De resto, esta tomada de posição por parte de Maria Teresa Horta recolheu nos media grande simpatia e compreensão, não havendo televisão ou pasquim que não se tivesse encarregado de destacar, difundir e amplificar esta atitude por muitos considerada de grande nobreza e estoicismo.

A 20 de Setembro, Maria Teresa Horta, em entrevista ao Diário de Notícias referiu que lhe era “impossível compatibilizar o seu percurso de vida e pensamento com um acto em que estaria presente o principal responsável pelo fim da política cultural”.

Após terem sido consideradas outras personalidades do Executivo para entregar o prémio, todas as hipóteses foram sendo reiteradamente negadas pela premiada, o que, ao abrigo dos valores de Abril que proclama, é um direito que manifestamente lhe assiste. Fernando Albuquerque, Presidente da Fundação Casa de Mateus, cansado de tanta negação, decidiu cancelar a cerimónia solene de entrega do prémio e informou que encerraria o assunto enviando para a morada da premiada o cheque de sete mil e quinhentos euros que complementa o galardão.

A verdadeira vergonha desta história é que o prémio D. Dinis, entregue pela Fundação Casa de Mateus é financiado a cem por cento pelo estado português, ou seja, é pago por todos nós, contribuintes e atribuído pelo governo “que aumenta o desemprego, a pobreza, retira aos reformados o que lhe é devido por terem descontado durante a vida e elimina todos os valores de Abril em Portugal."

A notícia do envio do cheque para a morada de Maria Teresa Horta não gerou nos media o mesmo interesse que a sua particular recusa em o receber das mãos do Primeiro-ministro ou qualquer outro membro do governo, e foi quase subrepticiamente esquecida por estes, pelo que espero agora que jornais, rádios e televisões tragam a boa nova de que a escritora decidiu devolver à Fundação o cheque, que o doou a alguma instituição de caridade ou que o distribuiu pelos desempregados e reformados de acordo com os seus valores de Abril.
Ficava-lhe bem, não acham?
 

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