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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A tão lusitana CNE

A Comissão Nacional de Eleições podia não ser uma instituição portuguesa? Podia mas não era a mesma coisa.
 
A recente polémica à volta da cobertura das eleições autárquicas é mais um extraordinário exemplo do que é ser português. Um exemplo de como existem uma multiplicidade de organismos públicos que deviam regular e não regulam, antes causam uma profunda atrofia ao normal funcionamento da democracia e da vida política, económica e social e que por essa razão não deviam existir ou cuja existência e funcionamento deveria ser reconsiderada.
 
Referir que todos os partidos e candidatos independentes às eleições autárquicas devem ter igualdade de tratamento, idêntica cobertura noticiosa e espaço de antena é algo que não lembra a ninguém de bom senso. 
 
Enquanto cidadão e eleitor o que exijo dos órgãos de informação é que dêem especial relevo, em primeiro lugar, aos candidatos que têm, de facto, capacidade para as disputar e, em segundo lugar, que tenham a destreza de, em conformidade com o seu critério editorial (entenda-se que baseado no interesse da coisa pública, digo eu), esperando esclarecer-me sobre as melhores políticas e as melhores propostas para o meu concelho ou freguesia.
 
Se pensarmos, por exemplo, na capital, é obviamente relevante saber o que pensam António Costa (PS) e Fernando Seara (PSD) e quais os seus projectos para o município e para os seus munícipes. Pode ainda existir algum espaço dedicado a ouvir as ideias de João Semedo (BE) ou João Ferreira (PCP), mas o que nos interessam as propostas do PTP, do PAN, do PPM/PPV/PND, do PCTP-MRPP ou do PNR?
 
As televisões, e muito bem, que são avaliadas pelos seus accionistas com base em critérios de competitividade intrínseca geradora de mais valias, decidiram unanimemente não dar cobertura ao festival de arruadas e comícios e excluíram os debates entre os candidatos da sua programação. E fizeram bem! Fizeram muito bem. Tristes figuras como as do candidato ninja do PTP à Câmara de Gaia, Manuel Almeida, devem ficar-se pelas redes sociais. São hilariantes mas acrescentam pouco.
 
E neste quadro perturbador fica a grande questão sobre como será com as legislativas? Podemos ouvir apenas o que têm para dizer Passos Coelho e Seguro, os bicéfalos do bloco, Portas e Jerónimo, ou precisaremos também de dar tempo da nossa vida a escutar personalidades ímpares da nossa sociedade como Amândio Madaleno, Paulo Borges, Baltazar Aguiar ou José Pinto Coelho?
 
Quanto à CNE é mais um fenómeno do tão lusitano mangadealcapismo e o seu parecer é mais um episódio que confirma que as leis do nosso país, obsoletas e arbitrárias não servem os interesses dos portugueses. Servem advogados, gestores e funcionariozinhos públicos como o Juiz Conselheiro Fernando Costa Soares.