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domingo, 9 de dezembro de 2012

Luton, o rastilho do extremismo europeu

São grandes as suspeitas de que a Al-Mouhadjiroun se trata de uma importante célula da Al-Qaeda em pleno solo europeu e julga-se ainda que Bakri e Bin Laden eram próximos ao ponto de ter sido Bakri a escrever vários dos discursos de Osama, nomeadamente aquele que se seguiu aos atentados contras as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia.


Luton é uma grande cidade suburbana situada a sensivelmente 50 quilómetros a norte de Londres. Tradicionalmente famosa pelo fabrico de chapéus, baseou sempre a sua economia numa forte componente industrial. A Vauxhall, um dos maiores fabricantes de automóveis do Reino Unido nasceu em Luton em 1905. Conta com aproximadamente 255.000 habitantes, repartidos por mais de setenta diferentes nacionalidades e constitui hoje uma das maiores preocupações do governo britânico.
 
Face à incapacidade de rivalizar com os seus concorrentes orientais, muitas das suas unidades fabris encerraram nos últimos anos atirando para o desemprego e por consequência para a exclusão social muito dos seus habitantes. Luton é por tudo isto um autêntico barril de pólvora: É uma cidade industrial, em crise profunda, onde os nativos não têm emprego e os imigrantes são em número muito elevado.
 
Em 2009 foi organizado na cidade um desfile de soldados regressados do Afeganistão e este terá sido o rastilho para o despontar e fortalecer de grupos radicais organizados como a EDL, de extrema-direita, ou os islamitas da Al-Mouhadjiroun. Nesse dia, enquanto decorria a passagem dos militares, um grupo de imigrantes islamitas deste movimento decidiu manifestar-se contra o desfile, empunhando tarjas e bandeiras com os símbolos do islão ao mesmo tempo que vociferava odiosos impropérios aos soldados apelidando-os de ‘assassinos cobardes que mereciam ser decapitados’. Por entre os distúrbios que se desencadearam nessa tarde de Março, um jovem de 27 anos saiu do anonimato: Stephen Yaxley-Lennons.
 
Stephen Yaxley-Lennons, ou melhor, Tommy Robinson, o nome de um famoso ex hooligan do Luton Town FC que Lennons utiliza como pseudónimo, nasceu em 1982 no seio de uma família irlandesa, é líder e porta-voz da EDL – English Defense League desde a sua fundação e, não obstante ter sido já membro do partido de extrema-direita inglês, o British Freedom Party, decidiu abandoná-lo para se dedicar a tempo inteiro à luta de rua da EDL.
 
Sob a bandeira do patriotismo, e ancorados num discurso alarmista que adverte para o perigo da implantação de uma lei islâmica no Reino Unido, a EDL tem-se dedicado incessantemente a espalhar uma mensagem de ódio contra os muçulmanos residentes no país – que já somam quase 3 milhões de pessoas (4,6% da população). Várias manifestações em nome da organização já ocorreram em diversas cidades da Inglaterra, e muitas culminaram em conflitos com a polícia, ataques a jovens imigrantes e confrontos com activistas antifascistas.
 
Neste momento, a EDL ainda é apenas uma organização de rua, sem estruturas bem definidas, sem uma estratégia bem delineada, e que se articula predominantemente através da internet. No entanto, a sua popularidade e dimensão não param de crescer, tendo sido inspiração para a criação de outras organizações gémeas no País de Gales, na Escócia e até na Dinamarca.
 
A grande maioria dos seus militantes é constituída por jovens brancos, da classe trabalhadora, mas há, segundo o The Guardian, um curioso factor que distingue a EDL dos antigos grupos de rua da extrema-direita. Em todos os seus comícios e protestos de rua, existem sempre um punhado de estrangeiros, e um dos seus líderes é um indiano nascido no Reino Unido. A mensagem islamofóbica da organização parece ter pavimentado o caminho para uma estranha miscelânea onde não faltam cristãos de extrema-direita e judeus ortodoxos, que vêm o movimento como estando na linha da frente da luta global contra o Islão, personalidades ligadas a movimentos neonazis e até activistas dos direitos homossexuais. A luta e a mensagem da EDL é tão forte e intensa que consegue fazer esquecer o passado dos seus apoiantes e congregar judeus e nazis, cristãos radicais e homossexuais.
 
Luton é o berço do terrorismo islâmico no Reino Unido. Foi em Luton que cresceram os terroristas que a 7 de Julho de 2005 fizeram explodir 4 bombas na rede de transportes públicos londrinos, matando 58 pessoas e ferindo mais de 700. O sueco de origem iraquiana Taimour Abdulwahab que se fez explodir em Estocolmo em Outubro de 2010, tal como o nigeriano Farouk Abdulmutallab que tentou explodir um voo transatlântico no natal de 2009 estudaram em Inglaterra e foi em Luton que todos eles se envolveram com os radicais do grupo Al-Mouhadjiroun. 
 
A Al-Mouhadjiroun nasceu em Mecca a 13 de Março de 1983 pela mão de Omar Bakri Mohammed, um iman nascido na Síria. Bakri foi expulso pelas autoridades sauditas e teve de abandonar o país em 1985 mudando-se para Londres onde refundou o movimento em 1986. Devido às suas práticas e ao seu discurso inflamado, o governo britânico decidiu igualmente bani-lo em 2005, mas a força dos radicais devotos voltou a erguê-lo em 2009. 
 
São grandes as suspeitas de que a Al-Mouhadjiroun se trata de uma importante célula da Al-Qaeda em pleno solo europeu e julga-se ainda que Bakri e Bin Laden eram próximos ao ponto de ter sido Bakri a escrever vários dos discursos de Osama, nomeadamente aquele que se seguiu aos atentados contras as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia.
 
Outro dos líderes da Al-Mouhadjiroun é o pregador radical Anjem Choudary que assume não ser a EDL nem Luton o seu objectivo, mas sim o número dez de Downing Street. Anjem Choudary é igualmente um militante do conflito de civilizações, licenciado em direito e que tira o maior proveito da liberdade de expressão inglesa para apregoar que só dará a sua demanda por concluída quando içar a bandeira do islão no Palácio de Buckingham e implementar a Sharia em toda a nação britânica. 
 
De acordo com um documento dos serviços secretos ao qual o Sunday Telegraph teve acesso em 2008, existem milhares de radicais islâmicos no Reino Unido que apoiam actividades de terroristas jihadistas no país e no exterior. O relatório afirma que o Reino Unido continua a ser um alvo de elevada prioridade para os terroristas com ligação à Al-Qaeda referindo ainda que há uma rede de células extremistas concentradas maioritariamente em Londres, Birmingham e Luton. Ainda segundo o documento elaborado pelo MI5 esses radicais, são na sua maioria cidadãos britânicos com origem do sul da ásia, principalmente do Paquistão, apesar de também haver extremistas do norte e do leste da África, Iraque e Oriente Médio, assim como uma quantidade crescente de convertidos.
 
O diretor do MI5, Jonathan Evans, disse que os seus serviços de inteligência haviam identificado pelo menos duas mil pessoas que representavam uma ameaça para a segurança nacional devido ao seu apoio ao terrorismo.
 
A ameaça do terrorismo islâmico na europa é real, muito complexa e crescente. Não deixa de ser relevante referir que todos os pilotos do 11 de setembro haviam estado na europa antes de viajarem para os Estados Unidos e que, depois deste acontecimento, as autoridades europeias já prenderam vinte vezes mais suspeitos do que os Estados Unidos, fazendo abortar, nalguns casos, operações contra alvos europeus em fase já muito adiantada de preparação.
 
Este clima de potencial terror é o terreno fértil para o aparecimento de movimentos xenófobos e anti islamitas por todo o continente. Luton é um símbolo do conflito de civilizações, mas fenómenos como os da EDL estão um pouco por toda a europa: Holanda, Bélgica, Áustria, Suíça, Alemanha, Dinamarca, Suécia e Finlândia são apenas as pontas deste iceberg.

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