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domingo, 30 de dezembro de 2012

Oásis no ártico

Contrariamente à crise islandesa, conjuntural, a crise portuguesa é estrutural, económica e muitíssimo mais grave do que a primeira. Resulta de mais de 30 anos de governos e de políticas incompetentes, de um estado altamente despesista e gastador, de um sistema político inadequado e corrupto, da ruína imposta pelas empresas do regime, da má gestão e do défice crónico das empresas públicas que albergam todo o tipo de incapazes, dos cargos, dos carros, das secretárias e dos motoristas, dos banqueiros e dos seus amigos, das reformas dos funcionários públicos aos quarenta anos, das baixas e dos subsídios fraudulentos e das parcerias público-privadas.


Há muito quem por desconhecimento de causa e por provincianismo queira comparar Islândia e Portugal, vendo neste país do círculo polar ártico um exemplo de actuação para a resolução da crise nacional, referindo não parcas vezes que aquele país teve uma crise, uma intervenção externa, e que volvidos três anos voltou a ter uma economia em crescimento, esquecendo-se contudo das diferenças colossais entre as duas nações. Com efeito, falamos de países muito distintos, com um modelo económico e social diferente, com uma população culturalmente nos antípodas uma da outra e até a crise que ousam comparar teve uma génese e consequências díspares.

Desde logo a questão administrativa dos dois países deixa antever enormes diferenças na forma como políticos e demais agentes públicos se organizam e gastam os recursos: a Islândia, com um território um pouco maior do que o português tem 79 divisões contra os 308 concelhos de Portugal (aos quais há ainda que juntar 4.259 freguesias). Sem necessidade de alimentar empresas de regime e políticos corruptos, não existem parcerias público privadas e a rede de auto estradas islandesa é sete vezes inferior à portuguesa. A Islândia tem um parlamento com 63 deputados e Portugal tem 230.

Em termos populacionais, a Islândia tem 318 mil habitantes, menos de um terço da população de Lisboa ao passo que Portugal leva, segundo os últimos censos, mais de 11 milhões. A percentagem de activos é outro dos aspectos a referir: 56% na Islândia e apenas 49% em Portugal.

O modelo económico islandês é um pequeno milagre: o país não dispõe de nenhuma indústria significativa, dedicando-se sobretudo ao sector primário. A agricultura e a pesca, sobretudo esta última são as actividades de referência num país que visa apenas produzir para consumo próprio, facto que lhe é permitido pela muito baixa densidade populacional. Dir-se-ia deste modo que um dos segredos deste milagre é o de ter uma balança externa equilibrada, sendo regra exportar muito pouco e importar ainda menos. A dados de 2008, a Islândia era apenas o 115º exportador do mundo com 5,3 mil milhões de dólares mas era o 130º importador com 4,5 mil milhões. Portugal registava um enorme desequilíbrio neste indicador: era o 39º importador com 77,25 mil milhões de dólares e o 56º exportador com apenas 55,8 mil milhões.

A Islândia tem um modelo social protector e eficaz. Os seus cidadãos estão sujeitos a uma carga fiscal sobre o rendimento maior ainda do que os portugueses, mas todos os seus restantes impostos são mais baixos, o que incrementa o poder aquisitivo real das empresas e das famílias por duas vias: os preços são bastante mais baixos e muitos dos serviços são prestados pelo estado. Um estudo recente elaborado nos países da Escandinávia levou à conclusão de que os habitantes de países como a Dinamarca, a Suécia, a Noruega ou a Finlândia estavam tão satisfeitos com o seu estado social que não se importavam de pagar mais impostos simplesmente porque têm a sensação de que as suas contribuições vão direitas para o seu próprio bem-estar e para o da sociedade. 

Os islandeses são ainda muito mais produtivos do que os portugueses: o produto interno bruto per capita da Islândia é o 25º maior do mundo com 38.500 dólares ocupando Portugal o 55º lugar da lista com apenas 23.700 e são os portugueses quem tem de enfrentar uma dívida externa quatro vezes e meia superior à islandesa.

E, para finalizar, a maior das diferenças: Portugal é um dos estados membros da União Europeia e da zona euro, tendo por isso compromissos e constrangimentos inalienáveis que o impedem de tomar livremente as suas decisões estratégicas em matéria de política económica, ao passo que a Islândia tem a sua própria moeda, a coroa islandesa, e pode assim estabelecer e ajustar a sua política cambial à realidade da sua natureza económica.

Quanto à crise, importa olhar para a sua génese, primeiro, para o seu enquadramento em seguida e para as consequências, depois. A Islândia foi, em 2008, um dos primeiros países do mundo a ser afectado pelo colapso do Lehman Brothers. O Landsbanski, o Glitnir e o Kaupthing, três dos maiores bancos islandeses, faliram e tiveram de ser nacionalizados pelo governo de Reiquiavique no espaço recorde de apenas 3 dias.

Segundo Gylfi Zoega, membro do banco central islandês e uma das personalidades ouvidas no documentário Inside Job, o problema começou na viragem do século, quando o estado decidiu promover a criação de um centro financeiro, à semelhança do existente em Londres com taxas de juro reduzidas, falta de regulação e de supervisão. 

Neste cenário, uma mistura explosiva entre banca de investimento e banca comercial orquestrou um esquema em que os bancos comerciais estavam a ser usados para pedir dinheiro emprestado noutros países, com a garantia implícita do Estado, para financiar projectos de investimento dos donos destes bancos e dos seus amigos. Os volumes de dinheiro emprestado levaram a que os três maiores bancos tivessem uma dívida combinada dez vezes superior ao produto interno bruto da Islândia. A garantia dada pelo estado islandês era extraordinariamente valiosa uma vez que o país não tinha qualquer historial de incumprimento não existindo sequer dívida soberana.

Contrariamente à crise islandesa, conjuntural, a crise portuguesa é estrutural, económica e muitíssimo mais grave do que a primeira. Resulta de mais de 30 anos de governos e de políticas incompetentes, de um estado altamente despesista e gastador, de um sistema político inadequado e corrupto, da ruína imposta pelas empresas do regime, da má gestão e do défice crónico das empresas públicas que albergam todo o tipo de incapazes, dos cargos, dos carros, das secretárias e dos motoristas, dos banqueiros e dos seus amigos, das reformas dos funcionários públicos aos quarenta anos, das baixas e dos subsídios fraudulentos e das parcerias público-privadas.

A crise da Islândia não se resolveu prendendo os banqueiros e o primeiro-ministro. Resolveu-se porque através de um referendo o povo decidiu não pagar aos credores bancários originando problemas diplomáticos com diversos países como a Inglaterra e a Holanda que tinham cidadãos muito afectados pela falência dos seus bancos. A Islândia recusou proteger os credores dos seus bancos, que entraram em falência em 2008 depois de as suas dívidas terem atingido 10 vezes mais do que a dimensão da economia. A decisão da ilha de se proteger de uma fuga de capitais, restringindo a circulação da sua moeda fê-la cair 80% face ao euro e permitiu ao Governo repelir um ataque especulativo, estancando a hemorragia da economia. Isso ajudou as autoridades a concentrarem-se no apoio às famílias e às empresas utilizando para este efeito grande parte do montante do resgate do Fundo Monetário Internacional.

A crise da Islândia foi aparentemente resolvida – veremos no futuro quais as consequências que o país terá de enfrentar no campo da diplomacia económica - com três medidas principais: não pagar aos credores dos bancos falidos que nacionalizou, restringir a circulação da coroa islandesa e utilizar os 2,1 mil milhões de euros do resgate para apoiar as famílias e as empresas.

Para se medir o alcance da nossa crise e para que se possa comparar a sua dimensão com a crise islandesa, refira-se que o valor de resgate do FEEF (tido por alguns como insuficiente) foi de 78 mil milhões de euros e, que desses, 12 mil milhões são exclusivamente para recapitalizar a banca nacional.

Mas, poderia Portugal ter feito diferente? No caso BPN, sim. Após tomar a decisão de o nacionalizar deveria ter indemnizado os seus credores e encerrar imediatamente o Banco tentando recuperar todos os créditos devidos. Não o ter feito foi um erro estratégico que terá ajudado a que o preço a pagar pelos contribuintes esteja hoje estimado em mais do dobro dos cinco mil milhões inicialmente previstos. O estado assumiu todas as imparidades, não cobrou parte significativa das dívidas ao banco e desmembrou a holding que tinha muitos negócios interessantes.

Quanto a tudo o resto Portugal, fez o que lhe foi imposto pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Central Europeu e pela União Europeia. Não tinha uma moeda como ferramenta cambial para uma estratégia keynesiana e o programa de ajustamento obrigou o país a implementar medidas de austeridade sobre medidas de austeridade.

Tal como a Islândia, devia ter julgado e preso os banqueiros e os seus amigos, o chefe de governo, exilado em Paris, e uns quantos ministros e secretários de estado mas o apodrecido sistema político-partidário e o seu conluio com a justiça jamais o permitiria. E o certo é que não contribuiria com nada a não ser, talvez, com uma maior mobilização dos seus cidadãos sabendo então que os culpados pela perda dos seus empregos e pela perda da sua qualidade de vida tinham um rosto e seriam punidos.

Importa para finalizar esclarecer algumas questões que têm sido mal abordadas por conveniência ou por desconhecimento: a Islândia não transitou de um governo de direita para um de esquerda, mas sim de um governo conservador para um social-democrata; a crise da Islândia, como atrás se viu, não tem os contornos, características e dimensão da crise portuguesa (veja-se o montante do empréstimo que cada país recebeu); a Islândia decidiu não pagar aos depositantes e credores dos bancos nacionalizados e não às instâncias internacionais responsáveis pelo resgate, entenda-se FMI; Portugal, ao contrário da Islândia e das duas anteriores presenças do FMI não tem liberdade cambial nem capacidade de impor as suas regras na negociação com a troika; a Islândia que em 2010 iniciou o seu processo de integração na União Europeia e na zona euro, recuou e parece ter desistido da adesão à moeda única; a gestão dos recursos públicos na Islândia é infinitamente mais criteriosa e rigorosa do que a portuguesa e a população tem uma consciência colectiva e social que Portugal não tem; a crise na Islândia não se resolveu julgando e prendendo pessoas; a Islândia aceitou, com a eleição de um novo governo, aprovar uma nova e mais adequada constituição.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O insurgente

Em Agosto de 1983, o Governo do Bloco Central PS-PSD, assinou um memorando de entendimento com o Fundo Monetário Internacional. Os impostos subiram, os preços dispararam, a moeda desvalorizou, o crédito acabou, o desemprego e os salários em atraso tornaram-se numa chaga social e havia bolsas de fome por todo o país. O primeiro-ministro era Mário Soares. Veja como o homem que hoje quer rasgar o acordo com a troika defendia os sacrifícios pedidos aos portugueses.

“Os problemas económicos em Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto”. DN, 27 de Maio de 1984

“Não se fazem omoletas sem ovos. Evidentemente teremos de partir alguns”. DN, 01 de Maio de 1984

“Quem vê, do estrangeiro, este esforço e a coragem com que estamos a aplicar as medidas impopulares aprecia e louva o esforço feito por este governo.” JN, 28 de Abril de 1984

“Quando nos reunimos com os macroeconomistas, todos reconhecem com gradações subtis ou simples nuances que a política que está a ser seguida é a necessária para Portugal”. Idem

“Fomos obrigados a fazer, sem contemplações, o diagnóstico dos nossos males colectivos e a indicar a terapêutica possível” RTP, 1 de Junho de 1984. Idem, ibidem

“A terapêutica de choque não é diferente, aliás, da que estão a aplicar outros países da Europa bem mais ricos do que nós” RTP, 1 de Junho de 1984

“Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”. Idem

“O importante é saber se invertemos ou não a corrida para o abismo em que nos instalámos irresponsavelmente”. Idem, ibidem

“[O desemprego e os salário em atraso], isso é uma questão das empresas e não do Estado. Isso é uma questão que faz parte do livre jogo das empresas e dos trabalhadores (…). O Estado só deve garantir o subsídio de desemprego”. JN, 28 de Abril de 1984

“O que sucede é que uma empresa quando entra em falência… deve pura e simplesmente falir. (…) Só uma concepção estatal e colectivista da sociedade é que atribui ao Estado essa responsabilidade". Idem

“Anunciámos medidas de rigor e dissemos em que consistia a política de austeridade, dura mas necessária, para readquirirmos o controlo da situação financeira, reduzirmos os défices e nos pormos ao abrigo de humilhantes dependências exteriores, sem o que o pais caminharia, necessariamente para a bancarrota e o desastre”. RTP, 1 de Junho de 1984

“Pedi que com imaginação e capacidade criadora o Ministério das Finanças criasse um novo tipo de receitas, daí surgiram estes novos impostos”. 1ª Página, 6 de Dezembro de 1983

“Posso garantir que não irá faltar aos portugueses nem trabalho nem salários”. DN, 19 de Fevereiro de 1984

“A CGTP concentra-se em reivindicações políticas com menosprezo dos interesses dos trabalhadores que pretende representar” RTP, 1 de Junho de1984

“A imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.” Der Spiegel, 21 de Abril de 1984

“Basta circular pelo País e atentar nas inscrições nas paredes. Uma verdadeira agressão quotidiana que é intolerável que não seja punida na lei. Sê-lo-á”. RTP, 31 de Maio de 1984

“A Associação 25 de Abril é qualquer coisa que não devia ser permitida a militares em serviço” La Republica, 28 de Abril de 1984

“As finanças públicas são como uma manta que, puxada para a cabeça deixa os pés de fora e, puxada para os pés deixa a cabeça descoberta”. Correio da Manhã, 29 de Outubro de 1984

“Não foi, de facto, com alegria no coração que aceitei ser primeiro-ministro. Não é agradável para a imagem de um politico sê-lo nas condições actuais” JN, 28 de Abril de 1984

“Temos pronta a Lei das Rendas, já depois de submetida a discussão pública, devidamente corrigida”. RTP, 1 de Junho de 1984

“Dentro de seis meses o país vai considerar-me um herói”. 6 de Junho de 1984
 
Ricardo Lima
 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Luton, o rastilho do extremismo europeu

São grandes as suspeitas de que a Al-Mouhadjiroun se trata de uma importante célula da Al-Qaeda em pleno solo europeu e julga-se ainda que Bakri e Bin Laden eram próximos ao ponto de ter sido Bakri a escrever vários dos discursos de Osama, nomeadamente aquele que se seguiu aos atentados contras as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia.


Luton é uma grande cidade suburbana situada a sensivelmente 50 quilómetros a norte de Londres. Tradicionalmente famosa pelo fabrico de chapéus, baseou sempre a sua economia numa forte componente industrial. A Vauxhall, um dos maiores fabricantes de automóveis do Reino Unido nasceu em Luton em 1905. Conta com aproximadamente 255.000 habitantes, repartidos por mais de setenta diferentes nacionalidades e constitui hoje uma das maiores preocupações do governo britânico.
 
Face à incapacidade de rivalizar com os seus concorrentes orientais, muitas das suas unidades fabris encerraram nos últimos anos atirando para o desemprego e por consequência para a exclusão social muito dos seus habitantes. Luton é por tudo isto um autêntico barril de pólvora: É uma cidade industrial, em crise profunda, onde os nativos não têm emprego e os imigrantes são em número muito elevado.
 
Em 2009 foi organizado na cidade um desfile de soldados regressados do Afeganistão e este terá sido o rastilho para o despontar e fortalecer de grupos radicais organizados como a EDL, de extrema-direita, ou os islamitas da Al-Mouhadjiroun. Nesse dia, enquanto decorria a passagem dos militares, um grupo de imigrantes islamitas deste movimento decidiu manifestar-se contra o desfile, empunhando tarjas e bandeiras com os símbolos do islão ao mesmo tempo que vociferava odiosos impropérios aos soldados apelidando-os de ‘assassinos cobardes que mereciam ser decapitados’. Por entre os distúrbios que se desencadearam nessa tarde de Março, um jovem de 27 anos saiu do anonimato: Stephen Yaxley-Lennons.
 
Stephen Yaxley-Lennons, ou melhor, Tommy Robinson, o nome de um famoso ex hooligan do Luton Town FC que Lennons utiliza como pseudónimo, nasceu em 1982 no seio de uma família irlandesa, é líder e porta-voz da EDL – English Defense League desde a sua fundação e, não obstante ter sido já membro do partido de extrema-direita inglês, o British Freedom Party, decidiu abandoná-lo para se dedicar a tempo inteiro à luta de rua da EDL.
 
Sob a bandeira do patriotismo, e ancorados num discurso alarmista que adverte para o perigo da implantação de uma lei islâmica no Reino Unido, a EDL tem-se dedicado incessantemente a espalhar uma mensagem de ódio contra os muçulmanos residentes no país – que já somam quase 3 milhões de pessoas (4,6% da população). Várias manifestações em nome da organização já ocorreram em diversas cidades da Inglaterra, e muitas culminaram em conflitos com a polícia, ataques a jovens imigrantes e confrontos com activistas antifascistas.
 
Neste momento, a EDL ainda é apenas uma organização de rua, sem estruturas bem definidas, sem uma estratégia bem delineada, e que se articula predominantemente através da internet. No entanto, a sua popularidade e dimensão não param de crescer, tendo sido inspiração para a criação de outras organizações gémeas no País de Gales, na Escócia e até na Dinamarca.
 
A grande maioria dos seus militantes é constituída por jovens brancos, da classe trabalhadora, mas há, segundo o The Guardian, um curioso factor que distingue a EDL dos antigos grupos de rua da extrema-direita. Em todos os seus comícios e protestos de rua, existem sempre um punhado de estrangeiros, e um dos seus líderes é um indiano nascido no Reino Unido. A mensagem islamofóbica da organização parece ter pavimentado o caminho para uma estranha miscelânea onde não faltam cristãos de extrema-direita e judeus ortodoxos, que vêm o movimento como estando na linha da frente da luta global contra o Islão, personalidades ligadas a movimentos neonazis e até activistas dos direitos homossexuais. A luta e a mensagem da EDL é tão forte e intensa que consegue fazer esquecer o passado dos seus apoiantes e congregar judeus e nazis, cristãos radicais e homossexuais.
 
Luton é o berço do terrorismo islâmico no Reino Unido. Foi em Luton que cresceram os terroristas que a 7 de Julho de 2005 fizeram explodir 4 bombas na rede de transportes públicos londrinos, matando 58 pessoas e ferindo mais de 700. O sueco de origem iraquiana Taimour Abdulwahab que se fez explodir em Estocolmo em Outubro de 2010, tal como o nigeriano Farouk Abdulmutallab que tentou explodir um voo transatlântico no natal de 2009 estudaram em Inglaterra e foi em Luton que todos eles se envolveram com os radicais do grupo Al-Mouhadjiroun. 
 
A Al-Mouhadjiroun nasceu em Mecca a 13 de Março de 1983 pela mão de Omar Bakri Mohammed, um iman nascido na Síria. Bakri foi expulso pelas autoridades sauditas e teve de abandonar o país em 1985 mudando-se para Londres onde refundou o movimento em 1986. Devido às suas práticas e ao seu discurso inflamado, o governo britânico decidiu igualmente bani-lo em 2005, mas a força dos radicais devotos voltou a erguê-lo em 2009. 
 
São grandes as suspeitas de que a Al-Mouhadjiroun se trata de uma importante célula da Al-Qaeda em pleno solo europeu e julga-se ainda que Bakri e Bin Laden eram próximos ao ponto de ter sido Bakri a escrever vários dos discursos de Osama, nomeadamente aquele que se seguiu aos atentados contras as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia.
 
Outro dos líderes da Al-Mouhadjiroun é o pregador radical Anjem Choudary que assume não ser a EDL nem Luton o seu objectivo, mas sim o número dez de Downing Street. Anjem Choudary é igualmente um militante do conflito de civilizações, licenciado em direito e que tira o maior proveito da liberdade de expressão inglesa para apregoar que só dará a sua demanda por concluída quando içar a bandeira do islão no Palácio de Buckingham e implementar a Sharia em toda a nação britânica. 
 
De acordo com um documento dos serviços secretos ao qual o Sunday Telegraph teve acesso em 2008, existem milhares de radicais islâmicos no Reino Unido que apoiam actividades de terroristas jihadistas no país e no exterior. O relatório afirma que o Reino Unido continua a ser um alvo de elevada prioridade para os terroristas com ligação à Al-Qaeda referindo ainda que há uma rede de células extremistas concentradas maioritariamente em Londres, Birmingham e Luton. Ainda segundo o documento elaborado pelo MI5 esses radicais, são na sua maioria cidadãos britânicos com origem do sul da ásia, principalmente do Paquistão, apesar de também haver extremistas do norte e do leste da África, Iraque e Oriente Médio, assim como uma quantidade crescente de convertidos.
 
O diretor do MI5, Jonathan Evans, disse que os seus serviços de inteligência haviam identificado pelo menos duas mil pessoas que representavam uma ameaça para a segurança nacional devido ao seu apoio ao terrorismo.
 
A ameaça do terrorismo islâmico na europa é real, muito complexa e crescente. Não deixa de ser relevante referir que todos os pilotos do 11 de setembro haviam estado na europa antes de viajarem para os Estados Unidos e que, depois deste acontecimento, as autoridades europeias já prenderam vinte vezes mais suspeitos do que os Estados Unidos, fazendo abortar, nalguns casos, operações contra alvos europeus em fase já muito adiantada de preparação.
 
Este clima de potencial terror é o terreno fértil para o aparecimento de movimentos xenófobos e anti islamitas por todo o continente. Luton é um símbolo do conflito de civilizações, mas fenómenos como os da EDL estão um pouco por toda a europa: Holanda, Bélgica, Áustria, Suíça, Alemanha, Dinamarca, Suécia e Finlândia são apenas as pontas deste iceberg.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A moral de um exímio gastador

Durante os anos que ocupou o Palácio de Belém, Mário Soares visitou 57 países (alguns várias vezes como por exemplo Espanha que visitou 24 vezes e a França 21 vezes), percorrendo no total 992.809 quilómetros, o que corresponde a 22 vezes a volta ao mundo.

Alguém se lembra do nosso Presidente Soares e das suas viagens? Vamos lá fazer um resumo de onde foram gastos milhões dos nossos impostos, só em viagens, com a sua comitiva... tudo pago pelo contribuinte, claro!

1986
11 a 13 de Maio - Inglaterra
06 a 09 de Julho - França
12 a 14 de Setembro - Espanha

17 a 25 de Outubro - Inglaterra e França
28 de Outubro - Moçambique
05 a 08 de Dezembro - São Tomé e Príncipe
08 a 11 de Dezembro - Cabo Verde

1987
15 a 18 de Janeiro - Espanha
24 de Março a 05 de Abril - Brasil
16 a 26 de Maio - Estados Unidos
13 a 16 de Junho - França e Suíça
16 a 20 de Outubro - França
22 a 29 de Novembro - Rússia
14 a 19 de Dezembro - Espanha

1988
18 a 23 de Abril - Alemanha
16 a 18 de Maio - Luxemburgo
18 a 21 de Maio - Suíça
31 de Maio a 05 de Junho - Filipinas
05 a 08 de Junho - Estados Unidos
08 a 13 de Agosto - Equador
13 a 15 de Outubro - Alemanha
15 a 18 de Outubro - Itália
05 a 10 de Novembro - França
12 a 17 de Dezembro - Grécia

1989
19 a 21 de Janeiro - Alemanha
31 de Janeiro a 05 de Fevereiro - Venezuela
21 a 27 de Fevereiro - Japão
27 de Fevereiro a 05 de Março - Hong-Kong e Macau
05 a 12 de Março - Itália
24 de Junho a 02 de Julho - Estados Unidos
12 a 16 de Julho - Estados Unidos
17 a 19 de Julho - Espanha
27 de Setembro a 02 de Outubro - Hungria
02 a 04 de Outubro - Holanda
16 a 24 de Outubro - França
20 a 24 de Novembro - Guiné-Bissau
24 a 26 de Novembro - Costa do Marfim
26 a 30 de Novembro - Zaire
27 a 30 de Dezembro - República Checa

1990
15 a 20 de Fevereiro - Itália
10 a 21 de Março - Chile e Brasil
26 a 29 de Abril - Itália
05 a 06 de Maio - Espanha
15 a 20 de Maio - Marrocos
09 a 11 de Outubro - Suécia
27 a 28 de Outubro - Espanha
11 a 12 de Novembro - Japão

1991
29 a 31 de Janeiro - Noruega
21 a 23 de Março - Cabo Verde
02 a 04 de Abril - São Tomé e Príncipe
05 a 09 de Abril - Itália
17 a 23 de Maio - Rússia
08 a 11 de Julho - Espanha
16 a 23 de Julho - México
27 de Agosto a 01 de Setembro - Espanha
14 a 19 de Setembro - França e Bélgica
08 a 10 de Outubro - Bélgica
22 a 24 de Novembro - França
08 a 12 de Dezembro - Bélgica e França

1992
10 a 14 de Janeiro - Estados Unidos
23 de Janeiro a 04 de Fevereiro - India
09 a 11 de Março - França
13 a 14 de Março - Espanha
25 a 29 de Abril - Espanha
04 a 06 de Maio - Suíça
06 a 09 de Maio - Dinamarca
26 a 28 de Maio - Alemanha
30 a 31 de Maio - Espanha
01 a 07 de Junho - Brasil
11 a 13 de Junho - Espanha
13 a 15 de Junho - Alemanha
19 a 21 de Junho - Itália
14 a 16 de Outubro - França
16 a 19 de Outubro - Alemanha
19 a 21 de Outubro - Áustria
21 a 27 de Outubro - Turquia
01 a 03 de Novembro - Espanha
17 a 19 de Novembro - França
26 a 28 de Novembro - Espanha
13 a 16 de Dezembro - França

1993
17 a 21 de Fevereiro - França
14 a 16 de Março - Bélgica
06 a 07 de Abril - Espanha
18 a 20 de Abril - Alemanha
21 a 23 de Abril - Estados Unidos
27 de Abril a 02 de Maio - Inglaterra e Escócia
14 a 16 de Maio - Espanha
17 a 19 de Maio - França
22 a 23 de Maio - Espanha
01 a 04 de Junho - Irlanda
04 a 06 de Junho - Islândia
05 a 06 de Julho - Espanha
09 a 14 de Julho - Chile
14 a 21 de Julho - Brasil
24 a 26 de Julho - Espanha
06 a 07 de Agosto - Bélgica
07 a 08 de Setembro - Espanha
14 a 17 de de Outubro - Coreia do Norte
18 a 27 de Outubro - Japão
28 a 31 de Outubro - Hong-Kong e Macau

1994
02 a 05 de Fevereiro - França
27 de Fevereiro a 03 de Março - Espanha (incluindo Canárias)
18 a 26 de Março - Brasil
08 a 12 de Maio - África do Sul
22 a 27 de Maio - Itália
27 a 31 de Maio - África do Sul
06 a 07 de Junho - Espanha
12 a 20 de Junho - Colômbia
05 a 06 de Julho - França
10 a 13 de Setembro - Itália
13 a 16 de Setembro - Bulgária
16 a 18 de Setembro - - França
28 a 30 de Setembro - Guiné-Bissau
09 a 11 de Outubro - Malta
11 a 16 de Outubro - Egipto
17 a 18 de Outubro - Letónia
18 a 20 de Outubro - Polónia
09 a 10 de Novembro - Inglaterra
15 a 17 de Novembro - República Checa
17 a 19 de Novembro - Suíça
27 a 28 de Novembro - Marrocos
07 a 12 de Dezembro - Moçambique
30 de Dezembro a 09 de Janeiro 1995 – Brasil

1995
31 de Janeiro a 02 de Fevereiro - França
12 a 13 de Fevereiro - Espanha
07 a 08 de Março - Tunísia
06 a 10 de Abril - Macau
10 a 17 de Abril - China
17 a 19 de Abril - Paquistão
07 a 09 de Maio - França
21 de Setembro - Espanha
23 a 28 de Setembro - Turquia
14 a 19 de Outubro - Argentina e Uruguai
20 a 23 de Outubro - Estados Unidos
27 de Outubro - Espanha
31 de Outubro a 04 de Novembro - Israel
04 e 05 de Novembro Faixa de Gaza e Cisjordânia
05 e 06 de Novembro - Cidade de Jerusalém
15 a 16 de Novembro - França
17 a 24 de Novembro - África do Sul
24 a 28 de Novembro - Ilhas Seychelles
04 a 05 de Dezembro - Costa do Marfim
06 a 10 de Dezembro - Macau
11 a 16 de Dezembro - Japão

1996
08 a 11 de Janeiro - Angola

Durante os anos que ocupou o Palácio de Belém, Soares visitou 57 países (alguns várias vezes como por exemplo Espanha que visitou 24 vezes e a França 21 vezes), percorrendo no total 992.809 quilómetros o que corresponde a 22 vezes a volta ao mundo...

Para quê? Expliquem ao povo para que serviu tanta viagem... Eis um dos porquês do nosso recurso ao acordo da troika.

A lucidez de Mário Soares

Há um par de semanas atrás, recebi este texto como sendo obra de Clara Ferreira Alves. Conhecendo eu o seu passado de ilustre defensora de Mário Soares, achei pouco credível a sua colagem à jornalista. A própria se encarregou de imediato de negar a autoria da crónica no seu espaço de opinião no Expresso.

Ainda que se desconheça o autor, vale a pena ler até porque desde que o Governo cortou 30% do financiamento público à sua fundação, Mário Soares tem andado num frenesim. Ora são entrevistas, petições, apelos ou cartas de personalidade, tudo serve para criticar a Maioria.

"Eis parte do enigma. Mário Soares, num dos momentos de lucidez que ainda vai tendo, veio chamar a atenção do Governo, na última semana, para a voz da rua. A lucidez, uma das suas maiores qualidades durante a sua longa carreira politica:

A lucidez que lhe permitiu escapar à PIDE e passar um bom par de anos, num exílio dourado, em hotéis de luxo em Paris.


A lucidez que lhe permitiu conduzir da forma "brilhante" que se viu, o processo de descolonização.

A lucidez que lhe permitiu conseguir que os Estados Unidos financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.

A lucidez que o fez meter o socialismo na gaveta durante a sua experiência governativa.
 
A lucidez que lhe permitiu tratar da forma despudorada amigos como Jaime Serra, Salgado Zenha, Manuel Alegre e tantos outros.
 
A lucidez que lhe permitiu governar sem ler os dossiers.
 
A lucidez que lhe permitiu não voltar a ser primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.
 
A lucidez que lhe permitiu pôr-se a jeito para ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e vencer as eleições presidenciais.
 
A lucidez que lhe permitiu, após a vitória nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com "testas de ferro" no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais.
 
A lucidez que lhe permitiu utilizar a Emaudio para financiar a sua segunda campanha presidencial.
 
A lucidez que lhe permitiu nomear para Governador de Macau, Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.
 
A lucidez que lhe permitiu passar incólume no caso Emaudio e no caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.
 
A lucidez que lhe permitiu ler o livro de Rui Mateus, "Contos Proibidos", que contava tudo sobre a Emaudio, e ter a sorte de esse mesmo livro, depois de esgotado, jamais voltar a ser publicado.
 
A lucidez que lhe permitiu passar incólume às "ligações perigosas" com Angola, ligações essas que quase lhe roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba (avião esse carregado de diamantes, no dizer do Ministro da Comunicação Social de Angola).
 
A lucidez que lhe permitiu, durante a sua passagem por Belém, visitar 57 países ("record" absoluto para a Espanha - 24 vezes - e França -21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais de 992 mil quilómetros).
 
A lucidez que lhe permitiu visitar as Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal.
 
A lucidez que lhe permitiu, no final destas viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da Republica Portuguesa.
 
A lucidez que lhe permitiu guardar esses presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da Presidência da Republica.
 
A lucidez que lhe permite, ainda hoje, ter 24 horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e Campo Grande.
 
A lucidez que lhe permitiu, abandonada a Presidência da Republica, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado, que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.
 
A lucidez que lhe permitiu construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade da licença de obras.
 
A lucidez que lhe permitiu conseguir que o processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer convenientemente no incêndio dos Paços do Concelho.
 
A lucidez que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a cinco milhões de Euros.
 
A lucidez que lhe permitiu receber, entre os vários subsídios, um de dois milhões e meio de Euros, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifico cedido pela Câmara de Lisboa.
 
A lucidez que lhe permitiu receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.
 
A lucidez que lhe permitiu que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-presidente da República, na... Fundação Mário Soares.
 
A lucidez que lhe permite que, ainda hoje, a Fundação Mário Soares receba quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.
 
A lucidez que lhe permitiu fazer obras no Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em que o Presidente era claro está... João Soares.
 
A lucidez que lhe permitiu silenciar, através de pressões sobre o director do "Público", José Manuel Fernandes, a investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.
 
A lucidez que lhe permitiu candidatar-se a Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à vencedora Nicole Fontaine.
 
A lucidez que lhe permitiu considerar José Sócrates "o pior do guterrismo" e ignorar hoje em dia tal frase como se nada fosse.
 
A lucidez que lhe permitiu passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais uma última vez.
 
A lucidez que lhe permitiu, então, fazer mais um frete ao Partido Socialista.
 
A lucidez que lhe permitiu ler os artigos "O Polvo" de Joaquim Vieira na "Grande Reportagem", baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao despedimento do jornalista e ao fim da revista.
 
A lucidez que lhe permitiu passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas últimas Autárquicas.

No final de uma vida de lucidez, o que resta a Mário Soares? Resta um punhado de momentos em que a lucidez vem e vai. Vem e vai. Vem e vai. Vai... e não volta mais."